Passeando para lá e para cá, trombei com um texto de 2003 de Martim Vasques sobre Matrix. Recomendo paciência e discernimento ao lê-lo, pois não é uma crítica de filme que estamos acostumados a ler no jornal. Aliás, será que realmente há alguém que considere aqueles rascunhos telegráficos uma crítica?
Num comentário por aí, eu disse que não sabia muito o que dizer sobre aquele filme. Ele sempre me pareceu esquisito - "ele", no caso, o primeiro e o segundo da trilogia (não vi o terceiro porque fiquei me sentindo inexplicavelmente indignado com o segundo, coisas de intuição). Bom, continuo sem saber, mas aquele texto do Martim é muito interessante. Trechinho para o leitor curioso:
O processo de iniciação de Neo - o hacker que é encontrado por Morpheus - é uma inversão da iniciação espiritual que gurus como Guénon, Coomarswamy e Burckhardt dissecaram com precisão em suas obras. A iniciação de Neo não é um processo de libertação dos véus da ilusão que cobrem a realidade; é um encolhimento ao espírito imanente, no melhor estilo Hegel. Sua revelação também não é budista - que, apesar dos pesares, havia um grande componente do Espírito ali, mesmo que ele estivesse aprisionado em ciclos cosmológicos -, mas sim cartesianista, a pura razão do cogito separando em espaços distintos o que deveria ser o real e o que é virtual. Não há tensão entre os dois polos; há apenas imersão em uma das realidades.
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