Nunca entendi direito o motivo de tanta reportagem sobre economia. É economia na tevê, no jornal... Acho que só no rádio não ficam atazanando a gente. Por sinal, confesso até que, devido a essa chatice jornalística, nutro uma imensa simpatia por aqueles programas de rádio em que o ouvinte liga para a estação e canta, imita galinha, diz a receita de uma comida (melhor ainda se for de pavê), etc.
Hoje por exemplo, não lembro em que canal, havia uma discussão sobre taxa de juros. Depois foi sobre a cassação do mandato de um deputado. Havia mais uma acerca de agropecuária. Meu deus do céu, quem de fato acha que essas coisas são de fato merecedoras de nossa atenção? Quando aparece na tevê alguém comentando sobre a próxima ação da bancada pró/contra-governo, chego a pensar que tudo não passa de um episódio inédito de Monty Python, e quem dera se realmente fosse.
Ao invés de passarem reportagens sobre essas chatices inúteis, muito mais proveitoso seria caso mostrassem o desenvolvimento da indústria de lâminas de barbear. Tem mais problema básico, mais comovente que esse? Uma lâmina que impedisse o crescimento da barba por um longo tempo, ou que realizasse o milagre paradoxal de não machucar nosso rosto, que delícia não seria! Valeria muito mais a pena mostrar simpósios de barbeiros - se é que os há -, o valor de uma bela aparada em diversas barbearias, informações sobre os diferentes métodos de corte ou até sobre bons cremes de barbear. Ou discussão sobre livros. Ao invés de reportagens sobre deputados pamonhas que aprovaram ou não tal lei, que mostrassem o debate sobre o último romance policial que saíra há pouco do prelo. Sobre a traição (ou não, segundo certos teimosos) de Capitu. Sobre a culpa de Helena ao se deixar levar por Páris. Enfim, sobre um monte de livros interessantíssimos que muitas vezes chegam a tocar fundo nossas vidas.
Não sei dizer bem onde está exatamente o motivo dessa valorização excessiva de assuntos efêmeros e enjoados por natureza que assola a mídia. Fico às vezes pensando, inclusive, quão chato não deve ter sido viver no Brasil entre 1964 e 1985, onde todas as conversas consideradas "inteligentes" deveriam ser justamente a respeito do governo, da repressão, da política imperialista dos EUA, do problema da conscientização política indígena na América Central e demais tolices aparentadas. Digo isso tendo como base alguns livros do Gabeira. Sim, li várias daquelas porcarias em tenra idade, portanto digo com conhecimento de causa que as pessoas mais "politizadas" daquela época, segundo Gabeira, adoravam conversar sobre estes negócios. Ainda que muitos gostassem de poesia, de música e do escambau a quatro, tudo acabava em política. A maior parte daquela gente devia ser um porre.
Vou dizer porque não estou tão errado em supor tudo isso. Vez ou outra aparece algum engraçadinho dizendo que "a juventude de hoje em dia é alienada e apática". Já ouvi até mesmo o Júnior, aquele amigo da Sandy, dizendo na tevê que gostaria de ter vivido nos anos sessenta, porque naquela época os jovens eram mais "conscientizados". Ora, porque o Júnior disse uma coisa dessas? Por que vez por outra algum doido diz que nós jovens somos alienados, fazendo questão de nos comparar negativamente àqueles revoltados que pastaram contra a Ditadura? Ora, é por causa da importância que dão à militância política. Tudo o mais é considerado inferior ou destituído de sentido. Daí que, segundo esta singular opinião, é mais necessário conhecer profundamente a reforma ministerial (blergh!) ou o valor da saca de soja (ugh!) que o nome daquele sujeito que compôs a "Eroica" (me refiro apenas ao nome porque, neste contexto, talvez seja pedir demais para que conheçam também a música), ou então a história em versos de um certo povo que corajosamente se atirou em mares nunca d'antes navegados, ou que mais seja. Noutras palavras, o transitório ganha importância às custas do perene.
Não sei se aparecerão cada vez mais notícias chatas e inúteis, mas a julgar que todo ignorante é chato e inútil, e como parece que está chovendo gente assim, então não seria destituído de senso um olhar pesaroso quanto a esta situação. Portanto, o melhor é ignorarmos na medida do possível jornais e telejornais, assistindo alegremente a Seinfeld, que é verdadeiramente um grande programa, ou até mesmo àqueles comerciais horríveis de vendas, como daquele Sonic 2000 (uau! deu para ouvir a agulha caindo do outro lado da sala!). Acreditem, Facas Gynsu são mais úteis e mais maravilhosas que a alta da bolsa.
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