Thursday, June 30, 2005

Notas

Deus meu, o que as pessoas não fazem escondidas pelo anonimato? Isso pensei após ter visto, numa sala de bate-papo, alguém com o nick "kérokú" - que insistia em dizer que por trás daquele nome havia um sujeito sério. Pessoas assim são parecidas com aqueles gordões, mas muito gordões mesmo, que não conseguem ver o próprio pinto: da mesma forma, não é possível enxergar a seriedade escondida por trás de um nick como aquele.

E já pensaram se as pessoas pudessem ficar invisíveis, como a Mulher-Invisível do Quarteto Fantástico? Imaginem quanta coisa não haveria! Donde concluo que Deus é sapientíssimo por não fazer deste mundo uma espécie de revista do Super-Homem. Não há dúvidas de que este é o melhor dos mundos possíveis.

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Cinco minutos assistindo à novela "América" e tive a sensação de ter aberto uma caixa de Pandora. De modo sintético, surgiam propagandas politicamente corretas, militância gay, distorções sobre os EUA e deboche aos evangélicos. Pouco mais de um minuto para cada questão. Cinco minutos bastaram para, nessa sobrecarga de informações (?), eu me sentir zonzo como não me sentia faz algum tempo.

Mas sempre haverá a desculpa de que "não foi bem assim", "não foi isso que quisemos demonstrar", já que, para alguns, só há comprovação do delito se o réu soletrar seu crime ou matar mais alguns milhares de inocentes.

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Quem nunca assistiu ao filme "Ninotchka", então assista: é muito bom e divertido. Há frases graciosas, como "meia-noite é o horário em que metade de Paris faz amor com a outra metade". É uma comédia romântica muito espirituosa.

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Quem nunca ouviu os motetos de Bach não sabe o dano que está cometendo a si mesmo. Eles são de uma sensibilidade mística notável, exaltação de um sentimento religioso sensível, profundo. Todos eles, em especial o moteto "Jesu meine Freude" ("Jesus minha alegria"), são impressionantes tanto pela beleza artística quanto pela intensidade da fé. A polifonia vocal a capela, em estilo "gótico" - por assim dizer -, causa uma impressão tremenda.

Não deixem de ouvi-los, meus amigos. São músicas extremamente comoventes.

Saturday, June 25, 2005

O ancião e a morte*

Havia numa aldeia um ancião que vivia solitário e em meio a muitíssimos trabalhos. Sua vida era triste e ele jamais se conformara com sua situação.

Durante um dia em que foi buscar lenha na floresta, assim que retornava para sua casa sentiu uma tristeza enorme em seu coração, como nunca antes. Era a revolta contra a vida. O dia lhe pareceu especialmente feio, embora o sol brilhasse como nunca. Aquela floresta, que sempre lhe acolhera, naquele momento lhe parecia um túmulo. O som dos pássaros parecia um deboche da natureza apenas contra ele. Ele se sentia arrastado por uma não sei qual força a sempre e sempre padecer. Daí que subitamente parou, atirou as pesadas lenhas que carregava nas costas ao chão e começou a suplicar pela vinda da morte.

Contudo, eis que, de repente, o sol foi barrado por uma nuvem cinzenta. Os animais se calaram. Um frio vento assobiou. E de repente, perante a si mesmo, o ancião, não sei com quantos calafrios, viu se aproximar ninguém menos que a própria Morte, em todo seu enigmático esplendor! Esta, aproximando-se do infeliz, disse em voz gutural:

- Ancião, ancião... Para que tu me tiraste de minha tranqüilidade e me convocaste? Vamos, fala.

Ele, então, ouvindo tais coisas, foi tomado por um súbito apego à floresta, aos sol e aos bichos que haviam se calado e, como se tivesse sido inspirado por algum ser superior, imediatamente lhe respondeu:

- Apenas te chamei para que me ajudes a carregar estas lenhas, cara amiga!

E a Morte riu, mais uma vez constatando que o comum de nós, nos momentos da última aflição, busca se apegar como nunca a este mundo de justiça imperfeita, ainda que mal saiba se melhor não seria aquele outro, além. Só a Morte o conhece, e só ela pode de fato rir.

*Baseado na fábula homônima de Esopo.

Thursday, June 23, 2005

Mais um link

Só para avisar ao leitor: acrescentei à lista da Pequena Paidéia Virtual um bom site, Web Gallery of Art. A qualidade das imagens é boa, valendo a pena perdemos um bocado de tempo passeando por lá.

Wednesday, June 22, 2005

Salomão, o mais sábio dos homens

Já advertiu Salomão: "Tolice, alegria do tolo."

Sobre uma carta ao povo brasileiro

Graças ao blog do André de Oliveira, tomei conhecimento de que escreverão mais uma “carta ao povo brasileiro”. Ora, havendo a probabilidade de escreverem algo desta natureza, e sendo a diagonal do quadrado incomensurável, então a experiência demonstra que semelhantes empreendimentos jamais são sensatos e prudentes. Não cheiram bem. Aliás, o único cheiro que cartas dessa espécie deveriam exalar é o do papel carbonizado, devidamente atirado na lareira ou forno mais próximo.

Como se não bastasse sermos agraciados por mais uma carta endereçada a todos nós, eis a razão de quererem escrevê-la: um alerta contra o “golpismo de direita”. “Deuses imortais!”, bradaria Cícero diante deste escândalo. Onde, quando, como, de que forma, através de quem surgiu este "golpismo"? Apenas posso concluir que deve ter sido causado por mim mesmo e por mais alguns gatos pingados, que nem se conhecem. Sim, tenho de admitir: estou envolvido neste “golpismo”, e por duas razões: uno, porque sou de direita, a saber, simplesmente por ser um não-esquerda. Pois se Euclides definiu o ponto como aquilo que não tem partes, tão bem posso me definir como aquele que não é esquerda. Aliás, eu poderia me definir também como um não-monitor, não-jornal, não-cozinha e até mesmo como uma negação de tudo, exceto de mim mesmo. Então, neste sentido sou de direita; duo, como um não-esquerda, definição essa que parece satisfazer as exigências intelectuais de grande parte do público alfabetizado, nesta condição sou um simpático leitor de livros de Aristóteles, de Gustavo Corção, ouvinte de Bach, espectador do desenho da Liga da Justiça e do seriado “Gilmore Girls”, fã de filmes como “Os Nibelungos”, “Procurando Nemo”, “Os Incríveis” e “Senhor dos Anéis”, admirador da vida dos santos, torcedor do Botafogo, amante de pavê e, sinal inconfundível de um não-esquerda, dotado de uma preguiça inacreditável só de pensar em fazer qualquer tipo de marcha e berrar o tempo todo. A última caminhada que fiz foi de minha antiga casa nas Laranjeiras até a Barra da Tijuca, sem reivindicar coisa alguma senão o simples fato de passear a vontade – mais um indício de pensamento burguês. Como eu vez ou outra, aqui, neste blog, escrevo sobre estes assuntos e alguns outros, então é claro que participo, ainda que sem o saber, deste “golpismo de direita”, afinal de contas estou fazendo propaganda contra-revolucionária. Portanto, para provar minha inconcebível ideologia, já pegarei meu garfo e faca para, antes de mais nada, comer alguma coisa, porque gente de direita prefere antes comer o que quer e quando quer do que esperar na fila o talão de racionamento do Estadão.

Não sei como perceberam o meu “golpismo” (aliás, por que esta palavra, “golpismo”? Quem dá golpe é apenas militar?), pois meu blog é a um só tempo escuro/obscuro, pouquíssimo freqüentado e só por gente seleta, confuso e desarrumado: um porão, em outras palavras – quer dizer, não que só gente seleta freqüente porões, mas isso é apenas um pequeno detalhe. E, nas minhas condições, creio que outros também estejam.

Eu não poderia deixar de lembrar ao impávido leitor que o excitar as massas em surtos de paranóia coletiva é o esporte preferido de líderes a um só tempo igualmente paranóicos e muito ambiciosos. O século XX foi um prodígio neste aspecto, nos brindando com camaradas invariavelmente perversos. Mas, coisa curiosa, todos eles provinham daquela camada da população, com uma ou outra exceção apenas para confirmar a regra, que Hannah Arendt chamou de “a ralé”. Muito bem: da mesma forma que a caça às raposas é modalidade tipicamente da nobreza britânica, a delinqüência em massa e loucuras coletivas parecem ser as modalidades mui praticadas pelos líderes-ralé. Ei-los, alguns: Lênin, Hitler, Stálin, Che, Fidel, Pol Pot, Mao, Trótsky... Poupo o leitor do embaraço de ler mais umas centenas de nomes. E, veja bem, todos eles incentivaram surtos e mais surtos de paranóia em seus governos: ou eram os estrangeiros que estavam querendo acabar com a revolução, ou a CIA, ou os intelectuais aburguesados, ou os judeus, ou a população urbana que nada entendia da bela e boa vida coletiva rural... Por que aqui, em meio a selva e aos micos, nada disso sucederia, justamente praticado pelos seus primos pobres do sul, que eram inclusive motivo de chacota entre seus primos ricos do norte?

E ainda tem gente que duvida que história se repete, ainda que com variações. Mas esperemos, eu e você, leitor, para ver se este blog será devidamente noticiado como partícipe do “golpismo”. Ao menos confessei.

***

Haverá, parece, uma marcha que terá o apoio de integrantes de outra, a “Marcha Mundial das Mulheres”. Ora, sabemos que “movimentos sociais”, em sânscrito, significa “desenxabidos que, sem pedir a tua opinião, agem em teu nome, e ficam zangados se você protestar”. Também a experiência acumulada por anos de labuta demonstra que todo incentivo à politização e cidadania desdobra em mulheres peludas, pobres cantando rap de protesto e gente de má-catadura gritando palavras de ordem. Sendo assim, desta vez o ovo podre descambará em Goiás, pátria do empadão: esta gente é uma azeitona e meu paladar a detesta.

E a prova insofismável de que um acúmulo quantitativo não implica, necessariamente, em salto qualitativo, é o fato de que dos muitos milhares de mulheres que talvez apóiem o abre-alas, umas poucas provavelmente se salvarão, e isso com escoriações no espírito. Donde vale lembrar o exemplo de Sodoma e Gomorra, onde o Altíssimo advertiu que salvaria a cidade se houvesse ao menos um probo. Mas quem sou eu para separar o joio do trigo imersos no esterco? Insensato aquele que excogitar sua participação naquele evento a fim de namoro.

Uma bela mocinha de movimento social é um negão bem-dotado disfarçado, espiritualmente falando. Se você bobear, te papa. Eis o meu alerta.


Membros de um movimento social em plena marcha.

Sunday, June 19, 2005

Mantra usual

(com muita raiva, repensando acerca da aposentadoria da máquina de escrever)

Computador filho da mãe, travou e me fez perder um texto.
Computador filho da mãe, travou e me fez perder um texto.
Computador filho da mãe, travou e me fez perder um texto.
Computador filho da mãe, travou e me fez perder um texto.
Computador filho da mãe, travou e me fez perder um texto.
Computador filho da mãe, travou e me fez perder um texto.
Computador filho da mãe, travou e me fez perder um texto.
Computador filho da mãe, travou e me fez perder um texto.

(e assim, até a fúria passar)

Saturday, June 18, 2005

Não confio em psicólogos e em psicanalistas

Nunca confiei em psicólogos ou psicanalistas. Tudo bem que não ouso nem a pau pisar numa tampa de bueiro também, mas isto é uma coisa que nada tem a ver com o assunto. Mas não confio neles.

Quer dizer, não confio, lógico, em qualquer um. À primeira vista, eu não disse nada demais: da mesma forma que é natural alguém averiguar a data de validade de um iogurte antes de comprá-lo, de um modo semelhante naturalmente buscamos - ou deveríamos buscar - informações acerca do sujeito que cuidará da gente.

No entanto, quando eu digo que não confio, é imaginando a vida pessoal do psicólogo ou do psicanalista. Será que eles costumam aplicar a si mesmos o que receitam aos outros? Ou será que eles agem como aqueles que muitos conselhos prudentes dão, mas que não aplicam nada em suas próprias vidas? Isso sem contar que, segundo imagino, a maioria foi "cozida" nalguma universidade deste país, particular ou pública, o que de antemão me deixa mais desconfiado ainda. Já ouvi falar de gente que entrou normalmente numa universidade e saiu com duas cabeças e cascos de bode no lugar dos pés. Tais fábulas me fazem sentir um terror indescritível.

Não sei, mas talvez, por via das dúvidas, melhor seria consultar primeiramente os nossos próprios pais e depois um bom padre. Ao menos em geral, estes sim vivenciam em si mesmos aquilo que dizem e querem nosso bem de forma desinteressada. Donde se conclui que apenas confio em psicólogos que sejam ao mesmo tempo parentes ou religiosos. Sobre psicanalistas não digo nada, porque primeiro tenho de continuar estudando a Poética antes de me manifestar em questões de alguma gravidade.

Ou será que estou dizendo só tolices? Ah, que seja.

Friday, June 17, 2005

Sobre "O Teocrata" ou: prelúdio a um e-mail desaforado

Olá, caro leitor. Contarei inicialmente uma pequena história. Rapidamente você entenderá do que se trata.

Certa vez, três sujeitos tiveram a idéia de criar um pequeno site, com o intuito de simplesmente escrever a respeito de cultura, críticas sobre livros, reportagens, etc, além de disponibilizar um espaço para a divulgação de poemas e textos de vários autores que eles julgassem importantes. Mas como esses mesmos sujeitos já imaginavam a reação de algumas pessoas quando lessem o tal site, bolaram um nome que antecipadamente já arcaria com os muito prováveis insultos que viriam: "O Teocrata".

Quem bolou o nome foi o Francisco Peçanha, que hoje em dia está ocupadíssimo, dando aulas de filosofia, e que vez ou outra aparece na caixinha de comentários do blog do Carlos. Ele teve uma boa sacação, eu e o Carlos gostamos bastante, tanto que até hoje, passados três ou quatro anos, e mesmo após a saída do Francisco, mantivemos o nome, sem cogitar a menor alteração. Ele surgiu antes dessa confusão infernal criada a partir do Onze de Setembro, onde virou moda chamar toda posição religiosa mais enérgica de "fundamentalista", "obscurantista", etc. De certa maneira, parecia que sem querer prevíamos alguma coisa, de modo totalmente obscuro.

Pois bem, "O Teocrata", onde publicávamos textos de nossa própria autoria - o Francisco saiu antes da primeira edição -, agora, reformulado, suporta três blogs (o meu, o do Carlos e o do Rafael, que participa desta brincadeira há pouco tempo) e um fotolog (da Rosselline, que poderia também criar um blog, mas seu pudor e recato são incomensuráveis), além de manter ainda os textos e poesias que já possuía anteriormente, inclusive uma pequena biblioteca eletrônica. Um blog é mais fácil e mais prático para publicação de textos que um site tradicional, daí a nossa opção em não escrevermos mais por lá - pelo menos não diretamente. Isso sem contar que, se já éramos amadores no site, aqui então nem sem fala: é como se atendêssemos as visitas em nossos blogs só de pijama, enquanto no site vestíssemos algo mais apropriado.

Diga-se de passagem que, num passado distante, tentamos levar adiante a idéia de publicar "O Teocrata" como se fosse um jornalzinho e distribui-lo, a preço simbólico, em universidades e alguns outros lugares. Hoje em dia penso que, se tivéssemos de fato levado a idéia adiante, talvez passaríamos por algo semelhante ao que houve com Pedro Sette Câmara, há alguns anos atrás, quando ele e alguns amigos distribuíam, na PUC, uma edição de "O Indivíduo" - na época um pequeno jornal universitário -, na qual ele discordava completamente dessa história para boi dormir que é a tal "consciência negra". Pois imagine se eu publicasse um texto defendendo a necessidade da Revolução de 1964 o distribuísse no IFCS! Ora, se por algo tão bobo quanto uma simples votação para centro acadêmico o pessoal de lá resolveu se estapear, com direito até a garrafadas, sendo eu uma das várias testemunhas daquele paroxismo todo, que aconteceria então se uns "reacionários ignorantes" ousassem defender abertamente algo tão "vil" e "degradante" como o movimento militar de 1964? Melhor: que não haveria de ocorrer quando lessem o primeiro artigo onde houvesse uma crítica ferrenha ao marxismo, ao PT e seja mais que for? Ora, se alguns amigos meus, na época da última eleição para presidente, já eram olhados de cara feia só porque andavam com um folheto onde se dizia que o PT era um partido totalitário enrustido, que dirá se lessem vários artigos associando o Iluminismo à ignorância, o marxismo à ditadura totalitária, os movimentos negros e gays à impostura do politicamente correto, etc, etc?

Mas, como diria Lênin, "que fazer"? Se todos nós temos vocação para escrever, então o jeito seria arcar com as conseqüências. Mas advirto logo que "O Teocrata", embora acabasse por tocar em assuntos como esse, nunca foi pensado de uma forma "política", por assim dizer. O que a gente sempre quis, e continua fazendo através dos nossos blogs, é escrever algo agradável e sobre temas que naturalmente mais gostamos, como por exemplo crítica cultural. O problema todo é que muita gente acaba lendo coisas assim de um ponto de vista puramente político - e burro -, envenenando tudo, como se fossem uma espécie de rei Midas que, ao invés de transformar aquilo que toca em ouro, transformasse tudo em cocô, acreditando piamente que de fato as coisas não passam de esterco. Talvez algum leitor que não tenha o costume de lidar com situações assim ache isso tudo muito esquisito, e de fato o é. O simples fato de escrevermos um pequeno texto sobre o cristianismo ou publicarmos um poema cujo autor é alemão, juntamente a uma crítica negativa, mesmo que superficial e fortuita, ao marxismo, é motivo para que sejamos considerados "membros da elite preconceituosa brasileira", "fundamentalistas", "nostálgicos da Idade Média", "fascistas que não mostram a cara", e demais lindezas aparentadas. E digo ainda, meu caro leitor, que estamos muito longe de sermos os únicos a passar por coisa semelhante. Todavia, os pentelhos virtuais não poupam a bolsa escrotal de ninguém, inflando até mesmo a de sujeitos tão desconhecidos e irrelevantes quanto nós, ainda que esporadicamente, mas sempre de modo característico.

É por este tipo de coisa que volta e meia digo alguma coisa sobre a loucura deste país. Não é possível nem escrever a respeito de cultura em geral sem ser considerado um indivíduo "politicamente errado". É verdade que existem muitas pessoas que não pensam dessa forma, mas parece que nosso solo é mais propício, como nenhum outro, a gerar idiotas. E como diz o provérbio, "é infinito o número de tolos", só faltando acrescentar "no Brasil". Vai ver está implícito, sei lá.

Outro dia publicarei um e-mail que recebi hoje, onde fica bem claro que tipo de disparates um retardado exemplar profere quando conhece um site do gênero de "O Teocrata", que só tem algo chocante na cabeça aloprada de um retardado, exemplar ou não. Até, até.

Thursday, June 16, 2005

Novos links no "Parada Obrigatória"

Por moleza, fui adiando o acréscimo de três blogs que costumo ler. Bom, de hoje não passa!

Vamos por ordem alfabética. O primeiro é o Ego Confession, de Christiane Alcântara, que é bastante simpático. Até onde pude perceber, vasculhando seus arquivos, ela tem uma certa queda por artes em geral. E diferentemente de alguns sites que já vi, ela comenta muito naturalmente sobre estes assuntos e o que mais lhe der na telha, que é sempre agradável.

O segundo é o Gradus ad Parnassum, de Edgard. Aliás, é agradável ler o seu blog não somente por causa dos interessantes textos como pelo layout. O modo de escrever do Edgard é bem peculiar. E ele adora música, essa que todo mundo chama "clássica", sabem? Pois é.

O último é o Traduções Gratuitas. Vejamos a proposta do blog segundo seu próprio autor, Luiz de Carvalho: "A proposta deste blog é publicar textos traduzidos por este pobre escriba, entre outras coisas; o critério de escolha não segue nenhum padrão didático. Críticas e sugestões às traduções serão bem-vindas." Então encontraremos neste blog Yeats, Pe. Garrigou-Lagrange, Émile Boutroux, Dietrich von Hildebrand... Quem lê-lo com freqüência perceberá que Luiz tende a publicar textos relacionados ao Cristianismo. Mas com relação às traduções, será que mais ninguém pensou ou teve a boa vontade em fazer o mesmo? Curiosamente tive essa mesma idéia um tempo atrás, quando eu lia a tradução espanhola da última parte da Economia Doméstica, obra que ao menos em parte parece ser de Aristóteles. Pensei: "por que diacho não abro um blog pra publicar traduções?" O problema todo é que meu conhecimento de outras línguas não é lá grande coisa...

Bom, estas são as novidades. Agora vou dormir, bom dia.

O Brasil rumo ao lodo

A atual polêmica a respeito das declarações do deputado Roberto Jefferson sobre esquemas de corrupção é mais outro claro sintoma do mal que assola este país. Não, não reclamo, como habitualmente se faz hoje em dia no Brasil, da existência da corrupção nos altos setores da administração pública. O problema é outro: da ordem de hierarquia de valores.

Sei bem que este início ficou um tanto obscuro ao leitor, mas já explico. Que você acha mais grave: um caso de corrupção entre deputados federais ou as (sórdidas) relações do líder de uma nação com grupos de terroristas, narcotraficantes, ditadores, etc? É mais grave um desvio de verbas públicas ou o financiamento para campanha presidencial cuja origem parece vir, dentre outras, de grupos de narcotraficantes? A segurança nacional está mais ameaçada graças a existência de um politicozinho corrupto ou mediante a articulação, neste próprio país, de um sem-número de grupos com o intuito de instaurar, da maneira mais discreta possível, uma revolução socialista?

Ora, demonstrar asco infinito a um caso de corrupção mas desprezar olimpicamente todas as evidências de ameaças à segurança desta nação não só é uma reviravolta na hierarquia dos valores como igualmente uma traição à república.

Os antigos, muito mais sábios, jamais se iludiram quanto a isso. Quando Catilina ousou arquitetar um golpe para tomar o poder em Roma, Cícero lhe desbaratou o intento. Da mesma forma, quando Pausânias quis se mancomunar com Xerxes, os lacedemônios, ao descobrirem seus planos, trataram de lhe infligir pena exemplar. Agora bem: imaginem se Cícero ou os éforos considerassem mais importante de combater o desvio de rendas públicas que a investigação de indícios de crimes contra a segurança de seus países! Pior: dentre dois crimes, desvio de dinheiro público e traição à pátria, eles considerassem mais terrível o primeiro e se omitissem completamente em relação ao segundo? É lógico que as suspeitas de traição recairiam tanto em Cícero quanto nos éforos, e quanto mais eles demonstrassem toda a indignação do mundo contra a corrupção, sempre às custas de investigações sobre possíveis perigos à segurança de seus respectivos países, maior seria o motivo de desconfiarmos de seus "zelosos" governos.

É neste caso que atualmente chegamos, aqui no Brasil: todas as evidências, muitas delas bem concretas, apontando atitudes no mínimo censuráveis deste governo e de muito grupos que o apóiam, são solenemente ignoradas. Por exemplo, muito mais grave que este atual caso foi a denúncia de que as FARCs também financiaram a campanha presidencial de Lula. No entanto, a reação geral foi de desprezo olímpico para com estas acusações. Por outro lado, a simples menção a um caso de desvio de verba pública causa tanto alvoroço que inclusive ouvi de um jornalista que "as bases da nação foram estremecidas"! Isto é o cúmulo da loucura, meus amigos!

Independente do resultado dessa tal CPI dos Correios, independente da investigação acerca das declarações deste deputado, enfim, qualquer que seja o resultado de tudo isso, o fato é que nossa república está se matando aos poucos. Aliás, cada vez mais rápido, e de tal maneira que pelo menos para mim é difícil imaginar de modo otimista como este país será daqui a vinte, trinta anos. É preciso ser muito ingênuo para crer que uma reviravolta de valores que tão cruelmente vai contaminando esta nação, e cujo sintoma podemos averiguar em discussões apaixonadas como nesta atual polêmica, seja por um passe de mágica ou mudança de governo curada. O problema não é o PT ou o MST, meus amigos. Eles são apenas um sintoma.

Monday, June 13, 2005

"Mesmo pequenas coisas podem nos encantar"

Domingo passado foi um dia muito feliz para mim, tanto que cheguei a pensar que valeria descrevê-lo passo a passo, além de um monte de impressões minhas a respeito. Mas pensei melhor e achei que não. Basta apenas mencioná-lo, deixando ao leitor apenas a sensação de um contentamento por este mundo, coisa que às vezes parece ser tão difícil.

Na verdade, acho que eu poderia resumir a minha impressão fundamental sobre aquele tão adorável dia pegando emprestado os primeiros dois versinhos de uma linda música de Hugo Wolf, de seu Italienisches Liederbuch (Livro de Poesias Italianas), chamada Auch kleine Dinge können uns entzücken, que poderia ter sido minha trilha sonora ontem:

Auch kleine Dinge können uns entzücken,
Auch kleine Dinge können teur sein.


Mesmo pequenas coisas podem nos encantar,
Mesmo pequenas coisas podem ser preciosas.

Amigo leitor, espero que isso não só te faça imaginar como foi, em suma, meu dia, como também te ajude a relembrar aqueles pequenos e ótimos momentos que você, com certeza, já experimentou e ficaram em sua memória, servindo como pequenos bálsamos em tua vida, de forma parecida com os últimos dois versinhos daquele poema:

Denkt an die Rose nur, wie Klein sie ist,
Und duftet doch so lieblich, wie ihr wisst.


Pense em uma rosa apenas, quão pequena ela é,
E todavia tão adoravelmente perfuma, como sabeis.

Saturday, June 11, 2005

Dia musical

Pedro saiu pelas ruas, gritando fugas e andando em sonatas. Estava vestido de órgão e perambulava ora a francesa, ora em estilo alemão.

Embora o dia estivesse um tanto rondó, algumas mulheres valsavam em pianíssimo, de modo que quem as ouvia sentia em seu peito algum tipo de allegro. Foi por uma dessas que Pedro, em pizzicato, no mesmo compasso tratou logo de estabelecer uma harmonia mútua. E no final do dia, travaram um duo em crescendo, de modo que em outros dias houve bis.

Sumiço

Uai, é impressão minha ou o Comentário Ultramontano sumiu?

Wednesday, June 08, 2005

E o questionário da moda chegou aqui

Gustavo Nogy passou a bola para mim, num tom dos mais simpáticos. Embora eu agradeça seus elogios, meu senso do real me impede de concordar com o gentil amigo, pois confesso, não sem vergonha, que não há gente mais preguiçosa e confusa do que eu. Mas enfim, então vamos lá, respondendo estas perguntas engraçadas de português de Portugal, pois, pois:

1. Não podendo sair do "Fahrenheit 451", que livro quererias ser?


Para o livro que eu direi, na verdade eu não precisaria estar num ambiente tipo “Fahrenheit 451”: bastaria a Grécia Antiga, porque eu adoraria ser um rapsodo declamando, se não toda a “Ilíada”, pelo menos os cantos VI, XVI e XXIV, que são, respectivamente, o encontro de Heitor e Andrômaca, os feitos de Pátroclo e o resgate do corpo de Heitor. Eles não apenas são bonitos como estão permeados de versos muito sábios, que só não citarei por economia de espaço. Na verdade, a “Ilíada” inteira é recheada de ensinamentos. Também adoraria decorar o “Eclesiastes” e talvez todos os Salmos, embora fosse temerário demais me confiar a salvação de um livro qualquer graças a minha duvidosa capacidade de memorização...

2. Já alguma vez ficaste perturbado/apanhado por uma personagem de ficção?


Bem que eu gostaria de dizer, como Sto. Agostinho comentou em relação ao teatro, que é loucura padecer por personagens de ficção, mas... Bom, apanhado é coisa de boiola, mas perturbado já fiquei sim. Digamos que não foi lá muito prazeroso eu ter me identificado um pouco com Raskolnikov, tirando, pelo amor de deus, o fato dele ser um assassino. Outro que me deixou desconcertado foi Édipo, porque ele me é o exemplo mais radical e terrível do problema da ignorância de nós mesmos e das nossas circunstâncias, sem contar a questão complicada de se encarar, de fato, o sentido de nossas vidas, que pode muito bem ser tão tenebroso que muitos prefeririam ignorá-lo para sempre. Hamlet e Orestes, por outro lado, sempre me deixaram pensativo porque ambos foram obrigados a cumprir um fardo imposto por algum tipo de força sobrenatural temível, e para o qual eles mesmos tiveram de pagar as conseqüências, ainda que de maneiras distintas.

3. O último livro que compraste?


Andei comprando zilhões de livros no mês passado. Não, não sou endinheirado; encontrei vários quase de graça, outros nem tanto. Vou mencionar alguns, pois senão a lista vai aumentar que só: “A Psicologia da Fé”, do Pe. Leonel Franca; “Werther”, de Goethe; “Uma Nova História da Música”, de Carpeaux; “A Nova Ciência da Política”, de Eric Voegelin; “Convite à Estética”, de Mário Ferreira dos Santos; “Problèmes de L’Art Sacré” (vários autores); “Contes”, de Boccace; “Romans et Contes”, de Voltaire; “Maria Stuart”, de S. Zweig; “Pais e Filhos”, de Turgueniev...

4. Os últimos livros que leste?

Os últimos? Mas uai, os últimos quantos? Dez? Vinte? Bom, desde o fim do ano para cá foram os seguintes: “Werther”; “Protágoras” e “Fédon”, de Platão; “O Zero e o Infinito”, de Arthur Koestler (bom para quem tenha curiosidade em conhecer na prática a maravilhosa “filosofia” da “Pátria da Revolução”, máquina de criar seres bestiais); reli “Uma Nova História da Música” e o “Mênon”, este também de Platão.

5. Que livros estás a ler?

Sempre leio várias coisas ao mesmo tempo. É aquela questão do interesse pular de assunto em assunto a todo instante. Daí não ser muito raro eu parar uma leitura pelo meio, ou só ler alguns trechos. Geralmente escolho dois livros por dia para ler, mas de forma lenta, com algumas exceções. Assim tenho lido “Os Anos de Aprendizado de Wilhem Meister”, de Goethe; “Apologia de Sócrates”, de Platão; as deliciosas “Fábulas de Esopo” (primeira tradução em língua portuguesa da integral das fábulas de Esopo em edição bilíngüe, feita pelo prof. Manuel Aveleza, que leciona na UFRJ); “Parsifal”, de Wolfram von Eschenbach (ê nomezinho), que ainda não passei da página 36; “Cartas a sus Ahijados”, seleta de cartas de Léon Bloy para Jacques e Raïssa Maritain e Pieter e Cristina van der Meer de Walcheren (há algumas interessantes; fiquei com vontade de ler vários livros dele). No ônibus, tenho algumas leituras fixas: as “Orações”, de Cícero (da coleção “Clássicos Jackson"), a “Ilíada” ou a Bíblia. Estes três são a minha oração perpétua.

6. Que livros levarias para uma ilha deserta?


Que pergunta! Ora, além da literatura básica de sobrevivência numa ilha deserta e, conforme Chesterton lembrou, quando fizeram a mesma pergunta para ele, de um manual de construção de botes? Se eu fosse parar numa ilha deserta, acho que o que menos me preocuparia seriam os livros, pois haveria trabalhos até não mais poder. Mas enfim, supondo o ócio, de cara imagino cinco para a lista: em primeiro lugar, claro, a Bíblia. Em segundo, a “Metafísica” de Aristóteles. Em terceiro, o “Fédon”. Quarto, embora eu só tenha lido um trecho ou outro, a “Suma Teológica”, de Sto. Tomás de Aquino. Por último, e também embora eu só tenha lido trechos, o “Almagest”, de Ptolomeu, pois numa ilha deserta talvez eu teria tempo e paciência de conferir aqueles cálculos todos, ainda que fosse muitíssimo mais interessante conferir os movimentos do Céu num ambiente que não seja tão luminoso quanto onde moro.

7. Quatro pessoas a quem vais passar este testemunho e porquê?


Carlos Krämer, porque ele é uma das poucas pessoas sãs que fazem História na UFRJ; Cris Alcântara, pois ela tem um blog bem divertido e estou curioso em saber o que ela lê, além de ter um gato que é meu xará - motivo fundamental; Rosselline, já que está fazendo monografia em filosofia e pode dar umas boas dicas; Francisco Peçanha, que embora eu nem saiba se ele conhece este meu blog, é, das pessoas que conheço, uma das mais cultas e com certeza indicará um monte de livros importantes. Estes dois últimos não têm blogs, então eu ficaria muito agradecido se respondessem na caixa de comentários ou, melhor ainda, se criassem algum.

Thursday, June 02, 2005

Definição do Movimeno Gay, Negro, Indígena e de outros semelhantes

A palavra é: ressentimento. E Nieztsche que dizia que o Cristianismo era coisa de povinho ressentido...