Saturday, February 26, 2005

Texto pós-Nemo

Dizer algo sobre o visual de Procurando Nemo chega a ser desnecessário. É tão evidente, tão monstruosamente clara a beleza de suas imagens, que qualquer elogio se torna pleonasmo. É tudo tão colorido e tão bonito que dá vontade de dizer que foi para vê-lo que minha visão foi feita.

Mas não é apenas o visual que merece elogios. O roteiro é muito divertido. Os diálogos são bons. E claro, geralmente os trocadilhos com hábitos de bichos nesse tipo de filme dão certo. Um polvinho soltando uma pequena tinta negra, como se estivesse se mijando de medo, ao ver um imenso tubarão; tubarões que se juntam numa espécie de AA, repetindo para si mesmos que peixes são amigos, não comida; tartarugas surfistas; um peixinho - o mais divertido do filme - que não consegue reter lembranças recentes, mais ou menos como (dizem que) as baratas são; um peixe-palhaço que não consegue fazer uma só piada decente. E por aí vai.

Se eu fosse comentar cada cena que ri sem parar, o leitor acabaria por não ler apenas um post, mas um livro. Por exemplo, a cena da sobrinha do dentista no consultório. Como era engraçado vê-la se debater apavorada quando entra um pelicano na sala e logo em seguida um peixe sai do aquário para cair em sua cabeça... Ou aquela da explosão de minas submarinas que forma bolhas, fazendo com que um pelicano, alheio a tudo aquilo e vendo se formar uma ao lado de seu amigo, ache que ele soltou um pum.

Logo após o filme, fiquei pensando com os meus botões algo sobre as animações japonesas. Não sou de ver muita animação, porém das poucas que assisti pude perceber que os japoneses, em termos de roteiro, são de longe os mais bizarros: violência desmesurada atrelada a um senso de humor no mínimo alienígena. Confesso que nunca fui muito fã de filmes de animação japonesa, cujas histórias são muito esquisitas. As americanas não - quer dizer, não tanto. Não sei se por serem uma cultura mais próxima de nós, o fato é que geralmente prefiro a deles. Alguns têm um senso de humor esquisito, algo que parece estar se tornando quase um gênero a parte. Porém mesmo assim eu fico com os EUA.

Um outro motivo para minha simpatia para com as animações dos EUA é que suas histórias são bem mais despretensiosas. Você não precisa ter um nível de "abstração" enorme para compreendê-las. Claro, sempre há exceções, como aquela da MTV que tinha uma mulher espiã que, igualzinho ao Kenny do South Park, sempre morria no final (esqueci o nome, cartas para a redação, por favor).

Mas estou fugindo do Nemo. Que são essas palavras, leitor? Faça que nem o pai do simpático peixinho e saia por aí procurando-o logo.

Saturday, February 19, 2005

Faxina

Estive arrumando o caos que virou a parte dos links bem ali, ó, do lado da página. Aproveitei e coloquei alguns novos. Como olhei e gostei da obra, vou tirar o domingo que vem para meu descanso, e santifico este sábado.

Tenho o projeto de comentar cada um deles, mas e a falta de paciência? Por enquanto, leitor, não tenha medo e vá trombando com eles, porque o caminho dos justos é sempre difícil, mas o fim é belo.

Conde de Gobineau e o Brasil

Certa vez, Stefan Zweig comentou que o Conde de Gobineau, após visitar o Brasil, afirmou que o único indivíduo racialmente puro no país era o Nosso Imperador D. Pedro II. O país tinha praticamente a população do Estado do Rio de Janeiro. E ainda que D. Pedro II causasse profunda impressão em quem achasse muito cool as teorias de superioridade nórdica (o homem tinha quase 1,90m, olhos azuis e branco até não poder mais, embora tivesse voz fina - ninguém é perfeito.), acho que no fundo o Conde de Gobineau estava fazendo aquilo que desde o mais pífio pigmeu até um nobre francês talvez não hesitariam em face de um sujeito mais poderoso: o famoso puxa-saquismo.

Mas hoje em dia, se o Conde de Gobineau visitasse nosso país, já ficaria chocado, só para começar, com o nosso presidente, Sr. Luís Inácio Molusco da Silva. Acho divertido imaginar o que ele escreveria em seu diário após uma entrevista com o Sem-Dedo.

Um país que tem quem tem como presidente não poderia ser, é claro, lá muito respeitável. Vejam o Theatro Municipal, por exemplo, se não me engano em dezembro. Eu estava passando pela Cinelândia quando, ao literalmente rufarem os tambores, em frente a uma multidão que se acotovelava em sua frente, saiu um monte de mulatos descamisados pulando de um lado para o outro. Chamam aquilo, ao que parece, de capoeira. Pois o Municipal se transformara - pelo menos a entrada - em palco de ginga de capoeiras. "Ha", pensei na hora, "imagina só o que o Conde de Gobineau diria sobre isso", e fiquei rindo sozinho, enquanto quem me via desse jeito na calçada achava apenas que eu era um bobo alegre.

Aquilo foi mesmo engraçado. Porém mais curioso foi o que um amigo meu me disse ontem. Na verdade, curioso e escatológico, porque esse meu amigo disse que, ao ver numa rua perto da minha casa um monte de cocô ao lado de uma camisinha usada, perguntou para seus botões também o que o Conde diria sobre aquilo. "Que as pessoas neste país copulam e defecam pelas ruas", foi o que meu amigo especulou. Mas quem disse que apenas essa hipótese é verossímil? O Conde poderia imaginar que as pessoas neste país defecam enquanto copulam pelas ruas desse país. Ou copulam enquanto defecam, o que dá na mesma. Bom, em todo o caso, qualquer das hipóteses é provável, pelo menos a julgar o Rio de Janeiro, que ainda querem que se torne capital do turismo.

Não é possível cogitar coisa muito diferente no país do Molusco. Aliás, a chegada mui triunfal do Molusco ao poder foi o coroamento do estrume.

Ah, Conde de Gobineau... Para você ser meu parâmetro de comparação com o Brasil ou, pelo menos, com o Rio de Janeiro, é sinal de que há algo de podre neste reino.

Tuesday, February 15, 2005

A farsa do Coelhinho Rosa, do Sapato Dentuço e do Anão Todo Janota em um ato-relâmpago

(A história se passa para lá de Bagdá. Coelhinho Rosa, passeando pela estrada afora, encontra o Sapato Dentuço às margens do rio Eufrates, cantando algo como "My shoes sing the blues", canção anônima muito dançante do Iraque)

Coelhinho Rosa (Olhando atentamente para os dentes do Sapato Dentuço.) - Sapato, me responde uma coisa: por que você tem dentes?

Sapato Dentuço - Naturalmente para pronunciar palavras que exijam as dentais. Por exemplo: como eu pronunciaria a palavra “dentais” se não tivesse dentes?

Coelhinho Rosa - Ué, e quem não tem os dentes da frente? Como fala “dentais”?

Sapato Dentuço - Deve dizer “zentais” ou coisa parecida. Mas nunca conversei com alguém sem dentes.

Coelhinho Rosa - Nunca? Nunca ouviu alguém falando algo sem dentadura?

Sapato Dentuço - Lembro de umas sandálias sem dentes. Elas tinham a ponta torta e curvada para dentro.

Coelhinho Rosa – Ué, as sandálias todas não são sem dentes?

Sapato Dentuço - Deve ser por isso que tinham a ponta como eu te disse. Mas não lembro da pronúncia delas direito. Não falavam português bem, talvez por serem havaianas. (Dá risadas com o trocadilho infame, batendo a sola no chão.)

Coelhinho Rosa - Mas, continuando, e por que você é dentuço?

Sapato Dentuço - Você tem alguma coisa contra meus dentes?

Coelhinho Rosa - Não... É que é esquisito um sapato de dentes, ainda mais se for dentuço.

Sapato Dentuço - Você fala dos meus dentes e não comentou nada da minha cueca. Olha, ela está a mostra, é branca e com o “s” do super-homem. Olha aqui, ó.

Coelhinho Rosa (Olhando para o céu.) – Eu não tô com vontade de ver sua cueca, que coisa!

Sapato Dentuço - Olha aqui, ó!

Coelhinho Rosa - Sapato viado...

Sapato Dentuço - Como?

Coelhinho Rosa - Sapato gaiato...

Sapato Dentuço - Mas você não acha estranho eu andar de cueca para fora? Ninguém nunca me pergunta nada sobre isso. Faço para aparecer, mas parece que tá difícil alguém perceber. Só reparam meus dentes.

Coelhinho Rosa - Você usa cueca só para disfarçar os dentes?

Sapato Dentuço - É, mas não adianta.

Coelhinho Rosa - Eu não disse nada para não te dar cadarço. (Ri do trocadilho mal-feito, balançando a pancinha.)

Sapato Dentuço - Pelo menos não adoro um cenourão.

Coelhinho Rosa - Quem disse que coelho só come cenoura? E você, que toda hora te metem o pé todo?

Sapato Dentuço - Viado.

Coelhinho Rosa - Não sou viado.

Sapato Dentuço - Não, é? Você é um coelhinho, que é bicho todo fresco. Para piorar, é todo rosinha. Deve andar rebolando o rabinho todo alegre.

Coelhinho Rosa - Já viu como sou quando encontro uma coelha?

Sapato Dentuço - Tem um monte de gay que finge ser homem.

Coelhinho Rosa - Mas não sou homem, sou coelho!!!

Sapato Dentuço - Além de viadinho, tem mau gosto. Colocar três exclamações numa frase é coisa de filisteu. Aliás, colocar mais de um ponto na frase é coisa bem de filisteu.

Coelhinho Rosa - Ressaltar uma idéia é coisa de filisteu por acaso?

Sapato Dentuço - Começa sempre assim: primeiro ressalta, depois já tá rebolando todo ressaltadinho.

Coelhinho Rosa - Isso não tem nada a ver!!!

Sapato Dentuço - Já começou a por um monte de pontos de novo.

Coelhinho Rosa - Quer dizer, isso não tem nada a ver!

Sapato Dentuço - Melhorou.

Coelhinho Rosa - E você, que é um lambe-chão? Sempre fica se arrastando, que nem um mendigão, no chão imundo. E vez ou outra se mete na merda! E toma esses pontos, toma! (Arremessa umas quatro ou cinco exclamações em qualquer lugar do Sapato, que dá uma mordida no Coelhinho. Este começa a chorar e gritar “ui, ui ui, meu santinho!”, correndo depois para sua toca. O Sapato exprime um ar de vitória e escárnio, de maneira que apenas um sapato dentuço sói fazer. Entretanto, aparece o Anãozinho Todo Janota, chamando a atenção do Sapato Dentuço.)

Anãozinho Todo Janota - Por Allah, que dor de barriga... Nunca mais como pastel naquele chinês... (Percebe o Sapato Dentuço, e sorri.) Este sapato vai servir direitinho de privada! Meu bumbunzinho cabe perfeitamente em sua entrada. (Ajoelha-se, fazendo mil rapapés e salamaleques.) Obrigado, Allah, obrigado!

Sapato Dentuço (Exprimindo todo o inconformismo de sua situação, como igualmente soem fazer os sapatos.) - Droga...

(Caem as cortinas. No fundo, toca "What a wonderful world".)

Saturday, February 12, 2005

Martírio



Um intermezzo nesta última semana pelas plagas cabofrienses me fez relembrar de como já estão distantes os tempos em que um homem cedia gentilmente a passagem a uma mulher. Atualmente este hábito está relegado a seres esquisitões ou proto-mártires da completa barbárie que está por vir - como se já não existisse -, o que dá na mesma.

Por isso, para todos de boa fé que sonham com o retorno da velha e boa monarquia - Ordem - por estas bandas (pleonasmo, porque toda monarquia é velha e boa), termino este texto pondo mais uma vez a foto do czar, que é santo, Nicolau II, mártir da e pela Sua Mãe Rússia, para o qual valem as seguintes palavras do Salmo 21: Eles transpassaram as minhas mãos, e os meus pés; contaram todos os meus ossos; e eles mesmos me estiveram considerando e olhando. Repartiram entre si os meus vestidos, e lançaram sortes sobre minha túnica

Friday, February 04, 2005

Destilando mau-humor sobre o tal do Fórum

Se ser contra a guerra do Iraque não é uma demonstração de canalhice, então pelo menos é de bobismo levado ao extremo, afinal de contas um governante bigodudo salafrário que mandou para os jardins de Allah mais de trezentos mil de seus próprios cidadãos tinha de ser expulso a chutes de uma imensa botina, mais ou menos como acontece em desenhos animados. Aliás, seria ótimo se realmente o chutassem ou o "torturassem" como fizeram com aqueles pobres-diabos que até então eram os temíveis cães-de-guarda do Iraque (por exemplo, fazendo pipi na cabeça dele, o que, convenhamos, é um tapa com luvas de pelica se comparado aos milhares de mortos, mutilações e coisas belas do gênero que ocorriam no Iraque).

Contudo, bobismo maior é esse Fórum Social Mundial. Ingressar naquilo é escrever na própria testa um atestado de, na melhor das hipóteses, bobão. Exatamente isso: bobão. Mais ainda será caso tenha a displicência de viajar milhares de quilômetros para visitar aquilo, como foi o caso de Saramago ou daquele francês enjoado que há anos atrás foi convidado para, a título de cortesia, invadir umas fazendinhas com o MST.

Não sei o número de pessoas que foram ao Fórum, já que minha preocupação com semelhante coisa se retringe apenas em expressar o óbvio, isto é, sua bobice crônica. Mas suponho que muitas pessoas para lá foram. E possivelmente vários jovens brasileiros, sem contar os que não viajaram mas olham para aquilo ao menos com vaga simpatia, comprovando que, por natureza, fomos doutrinados a por nossos bumbuns para o alto e rezar segundo a Meca esquerdóide.

O problema aumenta quando começam a meter a mão em meu bolso para financiar um bando de bobões a se masturbar debaixo do chuveiro ou a andar nus de um lado para o outro. Aliás, não ficou claro se estavam se masturbando juntos ou não, o que não seria nenhuma surpresa. Não interessa. A própria idéia de financiar com dinheiro público algo como o Fórum Social Mundial é um absurdo de fazer o sol, caso tivesse sentimentos, se esconder para sempre de vergonha. Queria ver a reação dos participantes daquele circo se o Estado patrocinasse anualmente um megaencontro da nata da intelectualidade liberal do mundo.

(Breves parênteses: essa história de masturbação me fez lembrar de uma cena d'A Lagoa Azul (aquele filme com a linda Brooke Shields), na qual a mocinha pega o rapazinho se masturbando. Ora, ambos estavam onde muitos considerariam um paraíso natural, isto é, uma ilha tropical sem uma única biblioteca próxima, muito menos um computador - algo similar ao inferno, na pobre opinião deste mais pobre ainda autor. Não há um paralelo evidente entre essa cena e o que aconteceu no FSM, no paraíso esquerdistóide, onde singelas moças viram rapazes com, se o leitor me permite usar uma expressão adaptada aos tempos modernos, a mão na "botija"?)

Ah, cansei de escrever sobre estas bobices. Fiquei com vontade de mudar completamente de assunto (o texto é meu, faço as inversões que eu quiser, rá, rá, rá...) e dizer algo sobre 2001: Uma Odisséia no Espaço, filme este que esperei uns quatro anos (sem a menor expectativa, por mais estranho que possa parecer) para assistir, e que no final das contas nem gostei muito. Ele passou de madrugada no Corujão, acho que na madrugada de quarta para quinta (dia 3/02?). Mas deixarei para comentar amanhã ou depois que eu voltar de viagem, semana que vêm.

OBS: Acho que está se tornando um hábito deste blog o empurrar textos com a barriga para um futuro incerto... Não se alarmem, não se alarmem. A este assunto pelo menos voltarei logo.

Thursday, February 03, 2005

Panorama nacional

Os leitores deste blog terão de parar seja lá o que estiverem fazendo para dar uma lida nisso. E avaliem suas respectivas ignorâncias sobre o assunto segundo o grau de estranheza que o texto provocar em vocês.

Eu ia linkar também um texto sobre a Inquisição, mas fica para próxima. Ou, caso acessem o Orkut, procurem pela comunidade Saudades da Inquisição e dêem uma olhadela por lá. Gracias.