Sunday, September 28, 2008

Último post concertante

Indico ao leitor o interessante texto de Murilo Mendes sobre Bach, no Sal Terrae.

E por falar em concerto

Quem tiver ouvidos, ouça. Nessa segunda, na mesma Sala Cecília Meirelles, às 19h, apresentarão o Réquiem de Brahms pelo valor de R$1, preço de três bananadas. A menos que o Senhor quebre Sua promessa e envie outro dilúvio, o evento é imperdível, mesmo eu não tendo a mínima idéia do valor da orquestra, dos solistas etc. etc.

Ida ao concerto

Sábado fui assistir à apresentação de Daniel Taylor na Sala Cecília Meirelles acompanhado por mais um Taylor, A.J.P., o falecido historiador inglês que escreveu A Segunda Guerra Mundial. Não sei se os dois têm algum parentesco, mas direi alguma coisa sobre o livro mais adiante.

Tendo chegado cedo, cousa espantosa vindo de alguém tão mal relacionado com os ponteiros como eu, decidi fazer uma hora numa igreja ali próxima. Mal entrei e vi um sujeito baixinho ensaiando umas músicas com um coro tão animado quanto feminino e de idade algo avançada. Ao lado, uma senhora tocava um teclado num estilo tal que julguei ser alguma performance ultra-moderna. Devo mencionar ao leitor que uma das pragas modernas é, na minha opinião, o teclado. Por mais que digam que ele soe como qualquer coisa imaginável, na minha modesta opinião ele soa apenas como um teclado tentando ser qualquer coisa imaginável. A falta de entrosamento entre o coro e o teclado era impressionante, sendo compensada pela extrema desafinação daquelas almas piedosas, algo que o baixinho, animado como estava em lhes ensinar as canções, parecia ignorar completamente. Sua boa vontade era igualmente impressionante, e então percebi que talvez ele estivesse cumprindo algum tipo de penitência inusitada.

Não havia sentido, no dia, minha primeira comoção musical, pois sentira algo semelhante ao passar, muitas horas antes, em frente a uma outra igreja. No momento da comunhão, alguém teve a belíssima idéia de fazer um acompanhamento musical num estilo semelhante a Ivan Lins, porém em tons sacros. Nunca me passara pela cabeça uma missa sitiada pela cafonice, mas parece que as pessoas conseguiram esse milagre. Infelizmente meu dáimon me mandou apertar o passo, embora eu esteja até agora querendo saber que raio de música era aquela.

Voltanto à igrejinha, aliás muito bela e que conheci graças a um evento totalmente mundano, isto é, quando da apresentação de quartetos de cordas de Beethoven, decidi, pois, ficar ainda mais, pelo menos até a hora da comunhão, esperando que Deus não me julgasse mal por ter de sair no meio da missa por causa do concerto. Chamou-me a atenção todas as pessoas serem de idade avançada. Numa igreja aqui perto de casa, algo semelhante parece ocorrer no meio de semana, exceto uma vez que vi uma senhorita de minissaia lá dentro. Mas a igreja estava razoavelmente cheia, num sábado frio e chuvoso, cousa mui louvável. Em todo o caso, eu era o caçula. Obviamente não havia razões para me incomodar com nada disso. O incômodo irrompeu mal tendo começado a missa. Antes que alguém me julgue destituído de espiritualidade, advirto que me refiro ao andamento estranho da missa. Aquele sujeito baixinho, que então descobri ser o pároco, juntamente com seu assistente, coreografava um balançar de braços dos fiéis. Havia uma cantoria de gosto duvidoso, uns gestos estranhos, uma música mal feita, uma leitura um tanto canhestra de passagens bíblicas, enfim, tudo feito estranhamente. Naqueles momentos, enquanto eu me perdia olhando aquela igreja tão agradável, surgiram-me as palavras que certa vez meu amigo Carlos escrevera em seu blog sobre a união da beleza com a liturgia. O que ele escreveu é, garanto, produto de considerações mui pessoais, pois ele próprio experimentara cenas litúrgicas esquisitas. Mas, pedindo gentilmente licença, eu avançaria um pouco mais e diria que toda a missa que não leve suficientemente a sério essa união da beleza com a liturgia cai, na menos pior das hipóteses, no cômico. Em certa ocasião, durante missa em lembrança à minha avó falecida, havia um cidadão que entoava os cânticos numa voz tão bizarra e com um jeito de falar tão inaudito que foi um empreendimento heróico manter o auto-controle para não rir durante tão grave evento.

Como eu estava com um espírito de concerto, não pude deixar de matutar que atualmente seria um período glorioso para as missas de Haydn, as quais, na época, foram ignoradas por causa de seu espírito alegre demais. Ora, sequer precisaríamos de uma orquestra e coro: bastaria um tocador de cd ou um desses cacarecos tecnológicos atuais que desconheço velhacamente. Por que, dentre as opções, há o hábito de sempre escolherem a mais infeliz? O mais curioso é o raciocínio de que o povo precisa daquilo que mais lhe convém, tendo implicitamente a noção de que o povo só gosta do que for pior. Música mal feita no lugar de Haydn parece ser, na cabeça de alguns, mais próprio ao povo.

Deixei, pois, a agitação de papéis de lado, mesmo antes da comunhão, e me dirigi à sala de concerto, embora, para meu espanto, faltasse meia hora para o início da apresentação. Sentei-me e decidi conversar um pouco com o historiador inglês, autor de A Segunda Guerra Mundial.

Não há nada pior que estar em má companhia. Talvez a única coisa pior é não poder desembaraçar-se dela. Para me gáudio, não era o caso em questão. A.J.P. Taylor me foi um ótimo companheiro de conversações, de tal modo que o deixei falar o tempo todo a fim de aprender.

Esse livro foi escrito no início da década de 60 e se tornou um clássico, embora tenha sido inicialmente detestado, exceto por "ex"-nazistas. Eu ouvira falar de Taylor graças a um outro excelente historiador, John Lukács, mas não podia imaginar que, além de ser inteligente, ele era tão divertido. Sua ironia é sutil -- às vezes nem tanto --, bem agradável, o que me rendeu algumas risadas, como no momento em que ele diz que as indenizações de guerra da Alemanha eram motivos "de insatisfação intelectual; coisa para lamentar à noite, e não motivos de sofrimento na vida cotidiana", que, em bom português, significa "frescura". Na mesma página, ainda sobre as indenizações, ele continua: "O homem de negócios em dificuldade, o professor mal pago, o trabalhador desempregado, todos as culpavam pelas suas dificuldades. O choro de uma criança faminta era um protesto contra elas. Os velhos iam para a cova devido às reparações." Ironia e sarcasmo que segundo meu imaginar só os ingleses conseguem desempenhar tão bem. Contudo, não pude deixar de perceber como tudo aquilo se aplica extraordinariamente ao Brasil, com a única diferença de o culpado ser a "exclusão social" ou o "capitalismo". Numa página anterior, ele diz que os ingleses começaram "a denunciar a loucura das reparações, tão logo se apossaram da frota mercante alemã", cousa que deve ter irritado mais de um inglês ao ler isso. Essas e outras passagens indicam que Taylor era polêmico, porque ele estava atacando todos os sagrados lugares-comuns: que a Alemanha não tinha como pagar as indenizações de guerra; que o Tratado de Versalhes foi totalmente péssimo para aquele país; que o programa de rearmamento alemão foi pesado durante quase toda a década de 30; que a guerra mundial foi tramada por Hitler; que ele, aliás, não era um estadista - mas é Lukács quem desenvolverá mais esse ponto; que planos como a anexação da Bélgica e Ucrânia, guerra contra a França e o Lebensraum não eram idéias típicas de Hitler, mas alemãs, e desde a Primeira Guerra. A lista é ainda mais extensa. Não foi por acaso que seu livro teve inicialmente uma recepção péssima e, para piorar, acabou erroneamente saudado por "ex"-nazistas, portanto interpretado por todos como uma espécie de reabilitação de Adolf Hitler: interpretação completamente torta, diga-se de passagem.

É lamentável quando o historiador é obrigado a seguir a opinião de todos tão-somente porque parece ser a mais agradável. A idéia de oposição ao establishment por si mesma é agradável apenas a quem não saiu da adolescência mental. No caso do historiador, a situação é mais complicada porque, afinal de contas, a história necessita ser sempre revisada. Sendo um estudioso, ele busca explicar o que ocorreu, nunca se satisfazando com as explicações aparentes. Um historiador precisa ser um pesquisador sério, não um instrumento que ecoa a opinião do dia. Como as pesquisas de Taylor, no dizer de Aristóteles, constrangeram-no a adotar certas verdades, muitas das quais eram contrárias às suas primeiras opiniões, por certo tempo ele foi detestado por muitos. É uma infelicidade monstruosa que em nosso país os cursos de história tenham sido tomados por selvagens cujo espírito é o oposto ao do verdadeiro historiador, embora esses infelizes se considerem espíritos críticos: eles querem unanimidade tão-somente. Mas que o leitor não exagere duplamente o que estou dizendo: Taylor não tem razão sempre e eu ainda estou lendo o livro.

Precisei terminar a agradável conversa com Taylor porque o concerto iria começar. Até o instante em que escrevo estas linhas tortas, não compreendi por que os organizadores chamaram o evento de "Música Antiga", já que nem Dowland, nem Haendel e nem as composições anônimas apresentadas eram música antiga. Naturalmente, a dúvida que surge é saber o que diabos significa esse termo. O canto gregoriano é antiqüíssimo, talvez a música mais antiga ainda em uso, mas não tenho certeza se seria apropriado classificá-lo como música antiga. Talvez seja mais próprio usar o termo para as músicas da Antigüidade, mas é bom que se diga que os próprios medievais, a certa altura, dividiam os estilos em ars antiqua e ars nova, e isso nada tinha a ver com a Antigüidade. Para o nosso gosto e, por que não, da própria Renascença, ars nova é algo inacreditavelmente arcaico, tanto quanto ars antiqua. Do ponto de vista da música clássica - o termo aqui se refere à música de um determinado período -, talvez não seja um absurdo total considerar que o período barroco e anterior não passam de algo cafona e fora de moda, ainda que seja uma extravagância colocar no mesmo saco gente tão diferente como Haendel e Dowland. É sempre complicado estabelecer o que é moderno e o que é velho segundo o que parece mais antiquado. Mas, como diria Taylor, são inquietações intelectuais boas para incomodar o sono, mas que não afetam em nada a vida cotidiana. Assim, estando o termo equivocado ou não, os músicos estavam lá e havia público suficiente para a apresentação.

Evidentemente, a atração principal do concerto era o contratenor Donald Taylor, o qual, repito, não faço a menor idéia se é parente ou não do historiador inglês. A primeira parte da apresentação foi consagrada a Dowland e compositores anônimos. Se o leitor nunca ouviu o compositor inglês, saiba que suas músicas são ótimas para, conforme a medicina antiga, incentivar a produção de bílis negra. É impressionante como Dowland compôs tantas músicas melancólicas. Na minha opinião, um dos melhores momentos foi quando Taylor cantou I saw my lady weep, embora não tenha havido uma segunda voz. Não que ele estivesse se apresentado sozinho, porque havia uma soprano extremamente bonitinha com ele, trajando um longo vestido esverdeado. Dentro do meu limitado entendimento musical, gostei de ouvi-la também. Pensei nas palavras de um poeta que dizia não haver nada mais agradável que ouvir um talento combinado a uma feição bela. Não posso cometer a injustiça de esquecer o senhor do alaúde, instrumento delicado que foi muito bem tocado.

A segunda parte foi dedicada quase inteiramente a Haendel, com acompanhamento de piano. Confesso que seria mais agradável se houvesse uma pequena orquestra de câmara, mas não quero choramingar porque o pianista era muito bom. Se alguém tinha alguma dúvida de sua habilidade, suponho que ela desabou após a execução de uma transcrição de Liszt de uma peça bachiana, se não me engano algum prelúdio e fuga. Uma certa melancolia continuou da forma mais bela possível, como durante a apresentação de um duo da ópera Theodora. Para quebrar a melancolia, o espetáculo findou com duas árias heróicas da ópera Giulio Cesare, em que Taylor alternava entre contratenor e barítono, exibindo suas habilidades vocais. Durante as árias heróicas, ele também fazia questão de interpretá-las, explicando antes ao público brevemente do que se tratava.

Eu estava tão perto do palco que não perdi um único perdigoto, nem uma eventual enxurrada deles, mas suficientemente afastado para me por a salvo deles. Eu gostaria de ter visto mais o pianista usando o pedal, mas a cabeça de um senhor na primeira fileira embargou-me o intento, bem como do senhor desprovido de cabelos que estava atrás dele. São detalhes irrelevantes, pois a apresentação foi boa, mesmo quando Taylor disse que o Ptolomeu da ópera conseguia ser ainda mais malvado que Bush.

Foi uma sensação curiosa voltar para casa depois daquele evento, pois tive de passar pelo mafuá dos Arcos da Lapa, zona considerada boêmia. Era como se eu estivesse me perdendo nas mais profundas trevas da antiga Germânia ou nos pântanos da velha Britânia. Minha imaginação não concebe as razões que levam um semelhante meu a embrenhar-se prazerosamente num local tão feio e lotado de mafomas e demais gentes de má catadura. Agora bem: a memória do espetáculo anulou aquele ambiente. Segui embalado por aquelas músicas até meu lar, como aliás já o tinha feito em outra ocasião, durante o festival dedicado a Beethoven.

Saturday, September 20, 2008

Da beleza da mulher


Qualquer assunto, da metafísica à harmonia cósmica, é banal se comparado à bela mulher. Perto dela, os maiores gênios da humanidade se assemelham à pandilha mais grosseira. Evidentemente, outras qualidades tornam a mulher ainda mais superior. Acaso a natureza lhe seja tão mãe que, não obstante sua beleza, ofereça-lhe também algum talento notável, seja um dote artístico, seja um nobre discernimento, seja um bom trato, toda a nossa admiração será justificavelmente minúscula diante de tal mulher.

Caríssimos senhores que se aventuram em proezas platônicas, homéricas e dantescas, não seria melhor deixar de lado tão magníficas ações em nome de uma mulher bela? Com esse chamamento à filosofia da ação, despeço-me, não sem antes pedir a compreensão de uma eventual leitora ressentida. Infelizmente nada poderei fazer a não ser desejar que essa leitora tenha ao menos algum talento. Adeus.

Wednesday, September 17, 2008

Um breve comentário sobre a política e as eleições

Se o voto é a arma do cidadão, sejamos coerentes: façamos mais uma campanha de desarmamento, dessa vez eleitoral.

Exceto entre comunistas e outros desastres, jamais conheci criatura do gênero humano que levasse a política a sério, o que talvez explique as calamidades atuais, especialmente aqui no Rio, que já deu dois passos para além do pior impropério. Tanto quanto, jamais tive a oportunidade de conhecer alguém que depositasse fé inabalável em qualquer candidato, exceto, como de praxe, os esquerdistas, mas aqui estou me referindo a gente normal.

Muito embora eu ouça que o brasileiro é tolo o suficiente para continuar crendo em políticos, não posso concordar, pelo menos não totalmente. Considero que esse tipo de opinião é parcial. Pode haver esse aspecto de ingenuidade amplamente disseminado, mas desconfio que não seja o dado predominante. Uma outra visão, talvez parcial também, mas que freqüentemente compartilho, embora com alguma desconfiança, é que, como já disse, as pessoas simplesmente não confiam na política. Prova disso é a vergonhosa popularidade do Congresso, cuja função como bode expiatório de todos os flagelos da nação ele vem desempenhando assaz bem.

Na minha modesta opinião, o brasileiro está longe de ter uma confiança suicida na política, pelo menos na medida em que ele não lhe dá muita importância. O máximo que faz é dar apenas um reconhecimento necessário. Apesar de tudo, as pessoas sabem que a política não é uma obra satânica, o que demonstra um enorme bom senso popular. Note o leitor que uma das marcas do pensamento conservador não é imaginar que a política seja intrinsecamente maligna. Quando um conservador destaca a precariedade da política, ele tem consciência de que está apontando apenas para um dos aspectos da questão. Numa época cheia de idéias políticas malignas, não age mal quem destaca o quão perversa a política é, mas isso, no fundo, conforme eu disse, é apenas um dos aspectos da questão. Pois bem, as pessoas em geral desconfiam da política sem considerá-la intrinsecamente maligna. Nesse sentido, o povo é conservador. É óbvio, todavia, que não estamos no campo da necessidade. Uma visão rígida das coisas apenas exageraria tudo. O caráter das pessoas, bem como de um povo, é passível de giros, da mesma forma que admite uma série de nuanças.

Continuando no campo da opinião modesta, não acho que o problema esteja no povo, porque, além de tudo o que já disse, ele é, por natureza, reagente. Não é na população que devemos, por conseguinte, buscar a fonte de nossos problemas. Eu diria que a principal responsabilidade é da elite letrada, isto é, pessoas mais ou menos cultas com alguma capacidade de influência na sociedade. O leitor encontrará ali toda uma sorte de criaturas as mais crédulas possíveis. O exemplo mais eloqüente foi o assentimento que parte dessa gente sempre deu a Lula, crendo que, uma vez no poder, o infeliz salvaria a nação. Essa cegueira se alastrou e contaminou o povo. Por outro lado, é nessa mesma elite que encontramos todo o gênero de reformadores sociais, que sempre visam a política como ferramenta fundamental, ou politizam todas as esferas da vida, o que é rigorosamente idêntico. Eu diria até que é essa classe que mais considera que "o voto é a arma do cidadão".

Para finalizar, e sendo ainda mais repetitivo, o povo ignora os fatos políticos simplesmente porque está pouco ligando para a política, enquanto a elite letrada o que mais faz é se haver com eles. Ora, amável leitor, quem você acha que é verdadeiramente cético?

Monday, September 01, 2008

A beleza é objeto de contemplação

Houve uma semana, cujo mês escapa vaidosamente à lembrança, na qual o acaso me presenteou com seguidos filmes da Jennifer Connelly. Enquanto desfilavam Hulk, Água Negra e outros, eu prestava mais atenção na atriz que nos enredos. Embora outras atrizes sejam ainda mais belas -- mas, diga-se de passagem, Jennifer Connelly está bem longe de não ser atraente -- o que mais me chama atenção na atriz é aquele dado tão difícil de precisar mas que costumamos chamar de "graça".

A avaliar certas fotos que andam circulando por aí, a atriz parece ter adotado a equívoca moda da magreza compulsiva. Jamais pude entender como as mulheres vislumbram alguma beleza no esqueleto -- porque nós homens, pelo menos geralmente, não apreciamos ossos. É mais chocante quando a pessoa, dotada de tanta beleza natural, força a si mesma em caminho contrário, certamente por causa de conselhos tenebrosos.

Deixemos, caro leitor, as divagações aquietadas. Alegremo-nos com a graça e a beleza da Jennifer Connelly.



Prototipia emasculada e inerte do corriqueiro, em poligamia branca com todas as realidades imbecis e inexpressivas da vida

Passeando pelo excelente blog de Antonio Fernando Borges, deparei-me com uma crítica extremamente cativante a Machado de Assis por parte do Pe. José Severiano Resende. De acordo com a sapiência do clérigo, a obra de Machado de Assis não passa de "Prototipia emasculada e inerte do corriqueiro, em poligamia branca com todas as realidades imbecis e inexpressivas da vida.” Ora, confesso ao distinto leitor que há anos venho me esforçando para criar uma frase tão casquilha. Por conseguinte, ela será meu lema, a partir de agora, para uso em todas as situações possível e impossíveis, seja como insulto, seja como descrição orkutiana, superando o "apostrofá-lo-ei com doestos e vitupérios incandentes" que li há quase uma década numa coluna divertida de João Ubaldo Ribeiro.

Se eu pudesse fazer mais um elogio às exuberantes críticas do padre e daqueles que o acompanharam, diria tão-somente que foi-se o tempo em que até a fala mais caturra exigia alguma sofisticação, ainda que beócia.