Sunday, July 24, 2005

Melhor tomar nescau "genérico" e ver uns quadros pré-rafaelitas que assistir à TVE (e não que isso seja muito vantajoso, mas...)

Apenas querendo deixar de molho meu cérebro, sentei e fui trocando de canal, enquanto comia torrada com requeijão e bebia um "genérico" de nescau. Primeiro passei por um joguinho da Major League Soccer horrível: mais de 40oC no campo, um time todo de preto, falta de habilidade mínima com a bola. Depois pulei para a Record, onde passava, com uma dublagem igualmente horrível, "1492", na parte onde Colombo faz um discurso - para ficarmos com o mesmo adjetivo, horrível - para acalmar a tripulação, muito nervosinha por não chegar a nenhuma mísera ilhota. Passei. Caí na TVE, que normalmente já não tem algo bom, num programa de um cara gordão que acha muito interessante ter sua caranchona estampada na tela. Coisa detestável, parece com aqueles sujeitos que para conversar quase nos beijam. E dava até para ver detalhes dos dentes dele.

O nome do apresentador era Abujanra (ou coisa parecida), ator - já vi aquele cara numa novela. Mas o interessante mesmo era a pose dele. Se a tevê estivesse sem som, pelos seus gestos e expressões pareceria que estava fazendo alguma revelação religiosa - ou pelo menos uma ótima sacação, que seja. E de fato começou até bem, descontada a caranchona estampada na tela: "Hoje, direi uma coisa que o público médio desconhece por absoluto, que a imprensa desse país quase não diz, e que quase ninguém sabe. Vou falar sobre um dos movimentos mais lindos e importantes da história do mundo"... Ora, naquele momento, entre um e outro gole de meu nescau "genérico", instantaneamente fiquei pensando sobre que diacho aquele homem diria. Algo que o público médio não sabe? Que a imprensa não divulga? Que é lindo e importante? Várias opções surgiram, de modo arrebatador. Será que eu teria a felicidade de escutá-lo a dizer algo sobre o movimento pré-rafaelita, que mesmo não sendo lindíssimo é interessante? Ou haveria de ser uma apresentação sumária da redenção do barroco no início do século XX? Talvez, por outro lado, alguns comentários sobre o cinema alemão na década de XX, e quem sabe trechos de filmes como "Aurora" ou "Dr. Marbuse"? Quem sabe então - hipótese que eu considerava remotíssima - ele dirá algo a respeito da catalogação pela Sociedade de Bach em Leipzig, em vários volumes, das obras completas daquele compositor?

O leitor deve ter percebido que em todas as hipóteses eu imaginava algo relacionado às artes, num período de no máximo um século e meio, dentro de tudo aquilo que o ator disse: algo que geralmente o público nunca ouviu falar, que a imprensa não divulga, etc. Finalmente eu veria na TVE algo que valesse a pena. Mas eis que, para destruir tais sonhos e criar só pesadelos, como aqueles bichos de "Monstros S.A.", o ator arrematou: "Vamos aqui falar sobre a... Comuma de Paris". Só pude exprimir duas frases de uma palavra cada, até porque eu estava comendo torrada: "Hein? Quê?" E para não perder o embalo, ele, o apresentador de caranchona estampada na tela, franzindo a testa e dando um sorriso ao mesmo tempo que falava, pediu que um historiador convidado explicasse ao público o que foi tão solene movimento. Quando o historiador começou a dizer "a Comuna de Paris foi...", retornei ao joguinho.

Mas ele estava tão ruim que, vinte minutos depois, voltei àquele canal, pois eu estava curioso em como aquilo haveria de terminar. E peguei mesmo o final. Tive sorte, pois consegui pescar a pergunta-chavão clássica quando se discute socialismo e afins. Eis o diálogo rápido:

Abujanra (sempre com aquela expressão que mencionei acima): Daria para prever que a Alemanha Ocidental engoliria a Oriental e a enriqueceria? Daria para prever o desmoronamento da União Soviética?

Historiador (despenteado e com a barba por fazer, que proporciona segundo alguns um bônus no carisma, já que seria de mau-tom não fazer o genêro "estou-nem-aí-para-a-moda-porque-sou-inteligente-demais"): Ora, quem faz previsão é astrólogo. (risos de deboche) História não é previsão, só trabalha com post-facts. Não dava para adivinhar. Por exemplo, quem é que aqui no Brasil ia adivinhar que Tancredo ia subir ao poder, acontecer aquilo tudo com ele e que Sarney viria logo em seguida? (Em seguida, apresentador e entrevistado se levantam e se abraçam, dançando tempo polca. Não, não, a dança fica por conta de minha imaginação.)

Como em tão poucas palavras alguém concentra tanta bobagem? O historiador mistura eventos acidentais, como o fato do Tancredo ter morrido por complicações de saúde, com algo puramente analisável a partir de certos pressupostos (que foram colocados em prática), como foi o comunismo, para daí concluir que tanto a conclusão de um caso quanto a do outro foram puramente acidentais. Façamos a prova dos nove a fim de averiguar se o historiador tem razão, através de comentários e análises a respeito do socialismo feitos por certas pessoas, antes e durante a URSS:

1) Meados do século XIX: Donoso Cortés afirma que a Rússia seria o palco do socialismo e de sua expansão imperialista;

2) Fins do século XIX: Eugen von Böhm-Bawerk analisa "O Capital" de Marx e diz que aquilo é uma canoa furada, insustentável;

3) Meados do século XX: Ludwig von Mises e Friedrich Hayek dizem que uma economia controlada pelo Estado é inviável;

4) Fins do século XX: Ronald Reagan percebe que a URSS está com seus dias contados e a coloca numa arapuca cujo fim bom todos conhecemos;

5) Durante esse tempo todo (I): a Igreja repete constantemente que o comunismo é um perigo temível e que deve a todo custo ser evitado;

6) Durante esse tempo todo (II): uma cacetada de pessoas, mas uma cacetada mesmo, das mais diferentes opiniões, estão de acordo sobre o mal do comunismo e provam por A+B, tanto antes como durante a existência da URSS, que a experiência comunista resultaria em fracasso redundante e incrível perda de vidas;

7) E assim por diante.

Uai! E agora, em 2005, nosso caro historiador, com os (inúmeros) fatos à sua disposição, coisa que muitos dos que sabiam que o comunismo era um mal conheciam só parcamente, afirma descaradamente uma pérola dessas, achando que tudo não passou de um acaso igual ao que houve com o falecido presidente Tancredo Neves. Hazard is my ass. Desse jeito até me animo para virar historiador também.

Para combinar com o adjetivo-figurinha do início do texto: foi horrível o que ele disse. E ruim por ruim, mais uma vez retornei ao joguinho, e de novo pulei fora. Para voltar à TVE? Só se eu fosse um desses comunas que gostam de errar de novo: fui para o computador escrever isso aqui, pois me divirto mais.

Bom, como acho que sairia ganhando mais o leitor, no final das contas, vendo algo de fato um tantinho mais interessante, aqui vai um ou outro quadro de pintores pré-rafaelitas. Já disse que não acho lá mil maravilhas, mas é melhor que saber o que foi a Comuna de Paris. E até, boa noite (ou dia, que seja).


April Love, de Arthur Hughes.


Beata Beatrix, de Dante Gabriel Rosseti.


Sidonia von Bork, de Sir Edward Coley Burne-Jones.

Friday, July 22, 2005

Uma rápida recomendação de leitura: "O Paraíso Sexual-Democrata"

Nessa semana li "O Paraíso Sexual-Democrata", de Janer Cristaldo, que conta como é a Suécia - aliás, era, porque o livro é dos idos da década de 70. Indico-o ao leitor deste blog porque ele foi escrito de forma bem objetiva e sem puxações de saco, seja para o lado dos adoradores da Suécia, seja para os inimigos. Foi escrito, diga-se de passagem, de maneira bem inteligente, a julgar o que um Gabeira já escreveu sobre o assunto. (É verdade, tal comparação não é mérito para ninguém, mas o valor da análise de Janer Cristaldo, exceto quando faz equivocados comentários sobre o Catolicismo, é mesmo interessante.) Mas o saldo está, a meu ver, mais para quem fica com o pé atrás com aquele país, ainda que as pessoas vivam, em geral, de modo incomparavelmente muito mais confortável do que aqui.

E não poderia deixar de ser assim. Não sem razão, Janer várias vezes relembra o funcionamento de sociedades segundo vários livros do tipo "Admirável Mundo Novo", onde o controle do Estado é perfeito. O governo sueco pode, não sem exagero, ser considerado o perfeito controlador social. Onde a URSS, Cuba e países do gênero pecaram pela brutalidade, a Suécia primou pela calma astúcia, o que não deixa de ser admirável, já que os suecos têm a fama de ingênuos e desprovidos de senso de humor. Aliás, tão perfeito é este controle que o próprio Estado incita protestos - contra outros. Antes com os outros que conosco, é a sua filosofia bem pragmática. Exemplo: incentivos à países tais como o Vietnã, na época em guerra contra os EUA, através de passeatas e donativos públicos e privados vultuosos. E até contra o Brasil havia gente disposta a lutar - desde que houvesse garantias legais para não ser preso e torturado... Não estou brincando, havia quem raciocinasse desta maneira. E o autor esclarece que isso não é nenhum pouco estranho do ponto de vista de um sueco, na verdade é sintomático, porque Svensson está acostumado a ser cuidado em tudo pelo Estado onipresente, até mesmo em suas reivindicações aparentemente subversivas. Daí que ele até vai para a guerra, mas só se o Estado cuidar dele na frente de batalha.

Tenho mais coisas a dizer sobre este livro, mas deixo para outra ocasião. Só quero ressaltar que vale a pena lê-lo. E antes que eu me esqueça, sim, toda essa história de liberalização sexual começou e foi amplamente difundida por lá, e o mais lindo de tudo, como uma medida fundamentalmente política. Com trinta anos de atraso chegam os reflexos aqui no Brasil, e mesmo assim cheios de "senões". Mas este assunto fica para uma outra ocasião.

Tuesday, July 19, 2005

Centelha (III)

Quanto mais escrevo, mais me dou conta que as letras possuem resistência própria. Neste sentido, a única diferença entre o trabalho com a pedra e o com as letras é que o primeiro é material na acepção plena, enquanto o segundo o é analogicamente. Daí que a habilidade de dobrar a resistência delas até que exprimam o que queremos é a mesma de talhar a pedra até que ela assuma a aparência que desejamos. Mas a arte só apareça quando as resistências são encaradas naturalmente e mesmo até, paradoxalmente, como aliadas. Então elas passam a ser uma questão puramente de técnica e razão de ser das próprias letras.

Centelha (II)

Antes de nos lançarmos às coisas do espírito, talvez seria mais sábio nos acostumarmos primeiro com o mundo concreto, que possui suas leis e resistências, que por sua vez são independentes e até às vezes hostis à nossa vontade. Será que deveríamos ser técnicos em eletricidade e/ou soldados, por exemplo, antes de nos aventurarmos em questões mais abstratas?

Centelha

Essa mania de utilizar simulações de computador a fim de analisar dados concretos da realidade não está muito longe do procedimento, segundo Aristóteles, dos pitagóricos. O mais curioso de tudo é que em ambos os casos a realidade se resume aos números e é você quem, por trás de tudo, de modo discreto, mexe os pauzinhos para que nada saia (muito) de ordem.

Team America - America, Fuck Yeah!

America...
America...
America, FUCK YEAH!
Coming again, to save the mother fucking day yeah,
America, FUCK YEAH!
Freedom is the only way yeah,
Terrorist your game is through cause now you have to answer too,
America, FUCK YEAH!
So lick my butt, and suck on my balls,
America, FUCK YEAH!
What you going to do when we come for you now,
it’s the dream that we all share; it’s the hope for tomorrow

FUCK YEAH!

McDonalds, FUCK YEAH!
Wal-Mart, FUCK YEAH!
The Gap, FUCK YEAH!
Baseball, FUCK YEAH!
NFL, FUCK, YEAH!
Rock and roll, FUCK YEAH!
The Internet, FUCK YEAH!
Slavery, FUCK YEAH!

FUCK YEAH!

Starbucks, FUCK YEAH!
Disney world, FUCK YEAH!
Porno, FUCK YEAH!
Valium, FUCK YEAH!
Reeboks, FUCK YEAH!
Fake Tits, FUCK YEAH!
Sushi, FUCK YEAH!
Taco Bell, FUCK YEAH!
Rodeos, FUCK YEAH!
Bed bath and beyond (Fuck yeah, Fuck yeah)

Liberty, FUCK YEAH!
White Slips, FUCK YEAH!
The Alamo, FUCK YEAH!
Band-aids, FUCK YEAH!
Las Vegas, FUCK YEAH!
Christmas, FUCK YEAH!
Immigrants, FUCK YEAH!
Columbine, FUCK YEAH!
Democrats, FUCK YEAH!
Republicans (republicans)
(fuck yeah, fuck yeah)
Sportsmanship
Books

(canção principal do filme Team America: World Police)

Saturday, July 16, 2005

Adendo ao post anterior: "A fadinha"

Quando o sol estava belíssimo, no ponto mais alto do céu, numa faculdade qualquer se reuníam várias pessoas para debater a respeito do que, segundo seu peculiar idioma, chamavam de "Conjuntura e Estrutura Brasileira em Face às Transformações Pós-Modernas". E assim que o primeiro orador abriu a boquinha - ele era tão franzino, tadinho -, a Fadinha apareceu, como do nada, e após dizer "um, dois três, café para o freguês!", transformou todo mundo em belas xícaras, cheias de café quentinho. E levou para casa, a fim de brincar de casinha com o urso risonho da floresta e as demais fadinhas.

Ser bem-informado é coisa de canalha

Fiquei umas duas semanas acompanhando as CPIs da vida que estão rolando por aí. Conclusão: eu, além de não conseguir mais somar com eficiência números para lá dos dois algarismos, muito menos dividi-los ou multiplicá-los (subtrair estou muito acostumado, dada a minha constante perda de vinténs), comecei a ficar com preguiça de ler qualquer texto que tivesse a palavra "logicamente", ou que fosse superior a seis linhas. Parecido com a forma com que alguns índios contam, comigo agora estava sendo um, dois, três, chega-senão-pulo-deste-trem-e-ainda-processo-o-Estado.

Eu havia me esquecido como as notícias voam e carregam a gente junto para o caos. São tantos fatos e tão contraditórios uns com os outros, senão terrivelmente chatos, que não seria estranho se depois de uns dez telejornais a gente mordesse nossas próprias mães e lambesse a bota de quem nos maltrata. E uma das poucas exceções é o programa "Os Vídeos Mais Incríveis do Mundo", tão interessante que faz com que cogitemos se não seria mais adequada a existência de uma pluralidade de mundos.

Tenho de admitir que não consigo muito bem administrar as coisas. Estar constantemente informado e estudar Max Scheler é, no mínimo, equivalente a assobiar e chupar cana. Ou eu fico sabendo que foi Tião Macalé - todo mundo na tevê participa da idéia de Tião Macalé - que fraudou a previdência, ou leio uma boa definição de homem e sua posição no cosmos, uai! Terceira opção não dá.

Será que é o vácuo do ambiente que nos arrasta até o chão? Em algumas regiões deste mundo a gravidade se faz sentir com maior intensidade. Exemplo bobo: Brasil. Às vezes tenho a sensação de que a única coisa que dá para fazer em certos dias é voltar rolando para minha casa, sendo que estou bem longe de ser considerado um gordão, muito menos "step". Aliás, por falar em Brasil, dia desses que estava pensando em como seria uma versão brasileira de "A Flauta Mágica". A Rainha da Noite seria ou uma prostituta ou um traveco, e suas árias seriam algo como "vilão, não pagou e me deixou na mão!", com uns índios berrando no fundo. Mas tal assunto fica para outro momento.

Há dois ideais excelentes para o início da formação de um jovem. O primeiro é mais ou menos como no filme "Rapanui", quando as meninas daquela remota ilha se tornavam moçoilas: trancafiá-lo numa caverna por oito meses - no mínimo. Vejam que belíssimas coisas não surgiriam caso todos os jovens fossem enclausurados por, digamos, três anos, sem contato algum com o mundo exterior, apenas com a monarquia de si mesmos, porque nós nos controlamos de maneira monárquica. Tenho a certeza que, caso não houvesse uma enxurrada de novos sábios, ao menos uns dois terços de besteiras não surgiria. O segundo é uma espécie de imitação de uma curiosa lei ateniense, cujo nome é tão horrível quanto a (in)conseqüência dos atos de alguém que, graças a uma lei sua, provocasse danos à cidade, sendo ele totalmente responsabilizado, e não a Assembléia que a votou - pois ela teria sido conduzida erroneamente pelo infeliz: "Graphe paranomon". Mas segundo meus ideais de formação, se um jovem, graças ao mau ensino de um adulto, cometesse besteiras, seria o adulto totalmente responsabilizado, enquanto o jovem teria de praticar a abstinência até os vinte e cinco anos. Acreditem, não há mal maior que obrigar a se calar um adulto que adora ensinar bobajadas ou proibir que os jovens descontrolados de hoje façam sexo. Talvez uma parte significativa tivesse até de ser acompanhada psicologicamente.

Como ninguém será nem enclausurado pelos motivos que defendo, muito menos obrigado a praticar abstinência, então que se danem. Quanto a mim, sujeito e objeto deste texto (ha!, tomem aí, filósofos, que nunca pensaram que alguém pode ser ao mesmo tempo sujeito e objeto!), tentarei retornar sem maiores preocupações à rotina tranqüila que sempre tive: "Gilmore Girls" para lá, alusões a "Seinfeld" para cá, músicas, leituras, filmes, boxe e similares. Ser bem informado é coisa de canalha.

Thursday, July 14, 2005

Massacre de crianças no Iraque

Eu soube da notícia pelo blog Direita.

São poucas as coisas neste mundo que provocam uma justa ira, ainda mais tão longe de nós. Mas eram crianças, cacete, e os soldados estavam distribuindo balas e brinquedos somente, até um maníaco matar a todos, ferindo inclusive um bebê de quatro dias! Santo Deus!

Hoje, mais do que nunca, tenho todos os motivos deste mundo para considerar todo aquele que ousar justificar o que chama de "resistência iraquiana", eufemismo para aquela turba bárbara, desumana e monstruosa, um total canalha. Afinal, que gênero de indivíduo buscaria defender, mesmo que discretamente, pessoas que de propósito matam inocentes, sem poupar inclusive bebês?

Vi num programa, há tempos, uma pessoa retirando com uma espátula, em Israel, os restos mortais, espalhados por todos os cantos da rua, de pessoas que morreram num mercado após a detonação de uma bomba, tudo por causa de um demente palestino. Não sei absolutamente nada sobre a Palestina, exceto o fato de ser um dos berços da demência atualmente. Ora, que sociedade normal incentivaria seus próprios membros a matar o maior número possível de inocentes?

Os EUA, a Espanha e agora a Inglaterra passaram por coisas semelhantes. É tudo de uma perversidade tão enorme que chega a ser inconcebível. É puramente demoníaco. E um dos indícios da perversidade demoníaca do caráter de algumas pessoas é a indisfarçada alegria ante a todas essas tragédias, mais ou menos como se se mostrassem vingados com a morte dos judeus no Holocausto. Pior ainda, sentimentos vindos de pessoas aparentemente normais.

Para que o leitor tenha uma idéia melhor do que eu quis dizer com "aparentemente normais", direi o que ouvi da boca de um infeliz professor que tive no segundo grau. Era meu professor de História e, no meio de uma conversa a respeito dos EUA, ele me disse: "Seria bom se houvesse o tal do grande terremoto na Califórnia, pra sacudir aquilo tudo. Tinha que acontecer alguma catástrofe pra abalar aquela gente." Na época, não dei muita importância àquelas palavras, talvez até ri, tamanha a minha loucura e falta de caráter com relação a tão grave assunto. Alguns anos se passaram e eis que houve o fatídico atentado contra as Torres Gêmeas, que me causou um estupor e tristeza inacreditáveis, como se minha mãe estivesse naquele lugar. Não lembrei na ocasião das palavras daquele sujeito que acidentalmente era professor; elas me vieram algum tempo depois. Senti então uma mistura de indignação, melancolia e tristeza, inclusive comigo mesmo. Era como se algum espírito dissesse: "eis aí a obra do teu gracejo".

Desde então, parafraseando Georges Bernanos, repito para mim mesmo: não se jogam dados com a vida. Não se pode nem é possível fazer a mínima concessão àqueles terroristas. E muito me espanta que haja pessoas afirmando que, ao contrário da Segunda Guerra, onde parecia claro que o inimigo eram os nazis, hoje tudo é nebuloso. Para mim não é nenhum pouco: onde houver gente que esteja propensa a matar inocentes, que busque chantagear o mundo sob ameaças de fabricação de armas nucleares ou que trancafie para sempre quem apenas discordou do governo, ali estão os "nazis" de nosso tempo, ainda que sejam semitas, orientais ou latinos. Aliás, hoje muitos enchem a boca para dizer que antes a Alemanha Nazista era claramente inimiga, mas basta uma rápida leitura em jornais, livros e outras fontes de opinião da época que fica patente que nada disso era tão claro, pelo menos até Hitler atacar a França e o Japão os EUA: sobrava gente que discordava da idéia de uma intervenção armada contra a Alemanha. Da mesma forma que hoje há canalhas defendendo a resistência/monstruosidade iraquiana, naqueles tempos não faltavam infelizes que juravam que Hitler era um sujeito cheio de ótimas intenções, governando uma coitada Alemanha humilhada pelas potências ocidentais. Pior de tudo que até hoje ensinam nas escolas que isso foi um dos principais motivos da Alemanha ter novamente ido à guerra. Quem nunca estudou que um dos motivos principais foi a imposição do Tratado de Versalhes, o chamado "Diktat", argumentando como um bom nazista soía fazer nos idos da década de vinte?

Por isso, meus caros, se no final das contas os países de bem (exceção: URSS, que de bem nada tinha) não foram transigentes com os nazis, por quê, por que haveriam de ser com esses malditos assassinos de crianças? Por que Israel está errado em se precaver duramente contra mais um lamentável massacre de inocentes em outro mercado? Por que os EUA, após os eventos de 2002, não podiam agir como agiram, ficando até barato para nações como o Irã e por extensão um monte, inclusive Cuba e China? Ao menos para mim está claro que, em casos extremos como esses, ou você fica a favor de canalhas ou contra, implícita ou explicitamente. Em outras palavras, ou você é canalha ou não, implícita ou explicitamente. Sim sim, não não, o resto é palavrório do Demônio.

Sunday, July 10, 2005

Diga-me a aparência do líder do teu país que te direi como tua nação é



Kim Jong-il, esbelto presidente da muito mais esbelta Coréia do Norte. Antes de discordar de mim, lembre-te que ele possui mísseis nucleares apontados sabe-se lá Deus para onde.







Kim Jong-il, à direita, destoando do resto com seu traje "mamãe, veja como sou um bom comuna".

Saturday, July 09, 2005

O filósofo já avisou...




















Minha mãe costuma dizer que quem não pensa, o corpo padece (ou outra frase cheia de elipses). No atual caso do "mensalão", foi o bolso pátrio que pagou a lula, quer dizer, o pato. E já vocês repararam como alguns gostam de usar aumentativos em termos horríveis? "Mensalão", "apagão"...

Com todo o atual escândalo, o cartaz adquire toda uma involuntária ironia. Muito divertido, muito divertido. E só se surpreende quem não é um homem de boa vontade, porque sobre o atual caos o filósofo já avisou, e faz tempo. E olha que até agora, neca de ao menos suspirarem alguma coisa a respeito do Foro de São Paulo.

Aliás, por falar no filósofo, ele foi demitido do jornal "O Globo". Não diziam que as empresas Globo eram um reduto de reacionários? Tirando algum eventual indevido uso de metonímia, o único conservador que havia no jornal era o próprio filósofo. Mas sua própria demissão ele também já previu, se levarmos em consideração o que ele vivia escrevendo desde não sei quando. Foi uma questão de tempo.

Friday, July 01, 2005

Enfim, o e-mail desaforado

Como prometi, eis o e-mail enviado para "O Teocrata":

como alguém pode ser tão IMBECIL ao ponto de ser contra o aborto de fetos anencéfalos?
pesquisa com células-tronco (enquanto tetraplégicos voltam a andar) então, nem pensar, né?
pq?
pq é contra as leis de deus, pq só deus pode fazer milagres...
vcs devem estar felizes da vida agora, com o rotwailler de deus guardando Roma...
realmente, na internet se encontra muita merda.
pedofilia, neonazismo e essa bosta de site de vcs está entre os piores lixos que encontrei. qt pretensão. Goethe praqui, Dante prali, na boca de gente evidentemente reacionária, ignorante, burra e preconceituosa. gente que se diz "cristã", que fala em "amor cristão" e divulga piadinha sobre lésbica, sobre gay....
um cara que é (pela fotinho) negro e é contra o movimento negro... ridículo.
a depender da igreja católica, mermão, e dessa atitude de "conservação do status quo" que vc tanto defende, vc estaria trabalhando como escravo (seus bisavós trabalharam, não se esqueça) até hoje...
ridículo, simplesmente.
a cultura, os "poemas" e a "arte" de vcs são de uma mediocridade risível.
mas a ideologia por trás de tudo não tem a menor graça. é triste.
vcs acreditam mesmo em deus e em jesus cristo?
acreditam que maria pariu um filho do espírito santo? que ela engravidou por "milagre"?
kaskaraskasakkakaaaasss
acreditam que o mundo foi feito em sete dias?
na arca de noé, com todos os bichinhos dentro, vcs acreditam?
os imbecis aí devem ser contra o uso de preservativos em relações sexuais, né?
ah, sim, as pessoas devem fazer sexo depois do casamento, conforme reza a igreja...
por fim, a grande questão: em papai noel, vcs acreditam?

ps_ olha, eu sou branco, heterossexual, e numa situação socioeconômica provavelmente muito, mas muito melhor do que a de TODOS esses conservadorzinhos de merda aí reunidos. e isso não se deve a nenhum grande mérito particular meu, mas a fato bem simples: nasci numa família bastante abastada, e dinheiro chama dinheiro, como se diz no mundo em que vivo...
digo isso para que fique bem claro que não estou advogando em causa própria, mesmo.
mas a irracionalidade de vcs é particularmente irritante pq se traveste de cultura e de razão onde existe apenas superstição. nada muito diferente do fundamentalismo muçulmano, embora estes ao menos tenham a desculpa de viver na idade média, num tipo de mentalidade que o ocidente superou já faz algum tempo... fundamentalismo cristão é algo tão obscurantista e absurdo qt foi o nazismo (com o qual a igreja católica foi deveras conivente), por ex.
passar bem, crianças


Eu já disse isso antes, mas não custa repetir: a quantidade de sujeitos que pensam assim é inimaginável, variando apenas o tom. Apenas quem não está acostumado com algo desse tipo estranharia esse gênero de "manifestação". É justamente para quem não está acostumado a se deparar com esse tipo de paroxismo que resolvi publicar esta pequena amostra da inteligência nacional - digo tal coisa porque não é o joão da esquina ou o manolo da quermesse que pensam assim, mas indivíduos que tiveram oportunidade de estudar em parte considerável de suas vidas e que constituem aquilo que se chama "público (supostamente) letrado".

Naturalmente, minha resposta foi educadíssima:

(Des)Prezado leitor,

Após toda essa manifestação de indignação que você demonstrou pelo meu site “O Teocrata”, não pude deixar de te escrever algo, afinal de contas não deixa de ser divertido espremer um piolho. Direi não por todos os membros do site, mas por mim mesmo: se eu pude crer que alguém teve a audácia de escrever toda a sorte de disparates que você escreveu – e, acredite, você não é o único idiota a escrever para a gente nesse tom, afinal de contas os idiotas têm a propriedade de formar multidões –, por que eu não acreditaria não apenas em Papai Noel, mas também em boitatá, saci, coelhinho da páscoa e National Kid? Pois existindo um leitor como você, aliás, se houve uma mulher, como a infeliz da tua mãe, que teve a insensatez de te parir, então tudo é possível. De fato sou contra aborto, mas no teu caso talvez eu fizesse uma exceção. Nisso até você de fato haveria de concordar comigo, afinal de contas, sendo você um anencéfalo que, por um milagre de Cristo, está vivo e em idade muito avançada, e como você disse que somente gente “IMBECIL” (imito aqui a tua afetação) é contra abortos de criaturas com esse mal, então não haveriam de começar por ti a título de exemplo? Mas como você é um imbecil, com ou sem capslock, então tua afirmação é autocontraditória.

O fato de você viver em família abastada só prova duas coisas: 1) que é a regra mais geral, pelo menos desde que o bárbaro disfarçado de intelectual Karl Marx se associou com Engels, o fato de pessoas de excelentes condições financeiras e posição social serem as primeiras a hipocritamente condenar uma suposta elite, “esquecendo-se” que elas mesmas são elite, e que as sociedades utópicas que propõem no lugar da que existe nada mais são que uma tirania totalitária exercida justamente por eles mesmos – com períodos de carnificina entre seus próprios membros, como se não bastassem os massacres costumeiros contra a população em geral –, dela participando um sem-número de pés-rapados como idiotas úteis e bucha-de-canhão. Se a tua cabecinha de ameba fizer algum esforço, você talvez lembrará como foi a Revolução Francesa, Russa, Chinesa, Nazista, Cubana, etc, etc, etc; 2) que a burrice e a falta de cultura não estão circunscritas aos mais pobres, afinal de contas, a julgar pelo que você escreveu, sou não apenas bem mais pobre que você como muitíssimo mais inteligente, o que não é mérito algum para mim, pois equivaleria a me considerar sábio por saber raciocinar melhor que um molusco. E ainda bem que você está “numa situação socioeconômica provavelmente muito, mas muito melhor do que a de TODOS esses conservadorzinhos de merda aí reunidos” (sic), porque se te falta evidentemente o discernimento, o bom-senso e a sabedoria mais elementar inclusive de tua própria língua, ao menos existe alguma coisa para te compensar um pouquinho, o que, aliás, mais uma vez demonstra que Cristo é por demais sábio e justo, ainda que você não tenha feito nada demais senão nascer numa família abastada e não ser de todo mongolóide. Dadas as tuas circunstâncias, a vontade de Deus não deixa de ser admirável, e não sei como, em tão clara manifestação de misericórdia divina em tua vida, você não tenha se tornado ao menos padre. É um mistério...

Uma banana para ti, e vai encher o saco da tua mãe.


Com toda a consideração que você merece,

Cassiano Farias

PS: Tanto o meu e-mail quanto o teu publicarei no meu blog.


Imagino as toneladas de encheções de saco que alguém como Olavo de Carvalho recebe diariamente. Até em seu scrapbook no Orkut vão insultá-lo.

Tudo isso é lamentável e servirá, talvez, como documento histórico de uma época tão miserável como esta, na qual apenas um maravilhoso milagre insiste em salvar alguns poucos bravos.