Sunday, April 30, 2006

Notícia autoprobante

Deu no portal da Inteligweb: Maioria dos alunos de 4ª série foram mal em língua portuguesa, segundo dados do MEC.

O título dessa notícia já demonstra as deficiências do ensino de nossa língua, não é verdade? Sou da seguinte opinião: pegassem todos nós que brincamos de tecer coisas bonitas e profundas com o espírito e bem provavelmente quase todos nós teríamos nossos afazeres seriamente questionados ou, em casos gravíssimos, seríamos internados em manicômios ou até presos por atentado ao pudor.

É muito comum ouvirmos que a educação é uma porcaria, que o pessoal passa de ano sem saber nada, etc, etc, mas está aí um caso muito, muito singular: todo mundo diz que a educação está uma porcaria, ou seja, todos se julgam aptos a emitir um juízo crítico acerca das escolas, mas poucos são aqueles que reconhecem publicamente que tiveram sua formação justamente nesse pandemônio que é a nossa educação. Ora, apenas aqueles que têm a fé em grau heróico conseguem atravessar o deserto traiçoeiro e cheio de provações sem ferimentos terríveis. Trocando em miúdos: se todo mundo está apto para criticar a educação, como é que ela poderia estar tão ruim? É evidente que existe alguma coisa muito estranha por trás desse problema. E isso, por si, é um sintoma da precariedade do ensino.

Quando todos se sentem aptos para dizer algo a respeito de tudo, quando todos se acham no direito (às vezes até obrigação) de fazer uma crítica sobre o que for durante um tempo muito maior do que aquele que levaram para ter algum embasamento sobre o que dizem, então a situação é calamitosa. Embora esse seja um tema sério e vital, não quero me perder nele. Minha intenção é de apenas testemunhar o quão grave é uma situação onde os críticos da educação são eles mesmos pessoas com deficiências colossais de formação. Este é, infelizmente, o nosso caso.

Não me pergunte, querido leitor, o que devemos fazer para salvar a educação. Se eu soubesse, você acha que eu escreveria apenas minhas divagações neste blog? Só acho, repito, muito estranho quando justamente aqueles que carregam os estandartes da inteligência se mostram não poucas vezes incapacitados de cumprir a sua áurea missão. Em nosso país isso é uma praga. É este o tema de nosso tempo.

Saturday, April 22, 2006

Centelha (IV)

Nestes últimos tempos, tenho cada vez mais pensado em duas coisas: que toda a tragédia é precedida pelo império da tolice e que todo o saber de nada vale se não trouxer consigo alguma marca do amor.

Saturday, April 08, 2006

Como a esquerda não consegue aceitar o 31 de março

Há algum tempo percebi que uma das melhores maneiras de encontrar algum assunto para escrever é dando um pulinho na UFRJ. Se o leitor acha que é pelo fato daquela instituição ser um celeiro de coisas belas e louváveis, engana-se. Infelizmente, na maioria esmagadora dos casos os eventos que por lá ocorrem não são, digamos, muito dignificantes. Poderiam inspirar até, na minha opinião, uma coluna de jornal qualquer, cujo nome poderia ser "O imbecil coletivo" (homenagem ao nosso filósofo), apenas relatando os fatos esdrúxulos cotidianos que insistem em haver naquela universidade.

Já cansei de presenciar ou saber de oitiva coisas deprimentes, até porque estudei no olho do furacão, espécie de Triângulo das Bermudas do Mundo Bizarro: o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, ou simplesmente IFCS.

Freqüento, em todo o caso, a biblioteca da faculdade de Letras, pois, malgrado tudo, há bons livros por lá - o IFCS também tem uma biblioteca interessante, mas devido a uma enrolação por causa da última greve estou com uma dívida que parece que não será paga tão cedo...

Costumo ir à faculdade de Letras mais ou menos de duas em duas semanas, pois este é o prazo de devolução dos livros. Sempre que entro naquele prédio dou uma olhadinha rápida no que está pregado logo na entrada. Nunca tem nada muito fora de costume, porém hoje vi a capa do jornal O globo do dia 31 de março, onde havia uma manchete bradando que o comandante do exército se orgulhava do golpe de 64 e do passado do Exército. Quanto absurdo! Obviamente dizer uma coisa dessas é motivo de escândalo sim... para a esquerda.

A esquerda não quer simplesmente participar do jogo político em condições de igualdade com a direita; ela quer, ela exige que o jogo político seja conforme sua vontade. Ela tampouco quer que alguém discorde de seu ponto de vista sobre os fatos. A interpretação esquerdista é a verdade total e científica, a um só tempo absoluta e moral, relegando qualquer outra interpretação ou mesmo fatos contrários ao que ela diz como de natureza intrinsecamente perversa, portanto censuráveis de um modo ou de outro. A única coisa que varia na censura esquerdista é a índole do censor. É por este motivo que, segundo um ex-colega de turma me contou há tempos, quando ele perguntou o motivo de não estudarem o Mein kampf em certa disciplina a um celebrado professor, este respondeu logo: "Não devemos dar espaços ao inimigo!" Perceba aqui, leitor, que as palavras do historiador não evocaram qualquer dúvida sobre a possibilidade mesma de usarem em sala o Mein kempf, sem que desse modo violassem alguma lei proibindo-o até mesmo de ser utilizado em aula como fonte de pesquisa para estudantes de História. Por mais tenebroso que o nazismo seja, e por mais que aparentemente seja inimigo do comunismo, pois na realidade são dois cumpadres, naquele momento o professor esquerdista, sentindo-se em casa, declarou em outras palavras que não passa de um militante político, um intelectual postiço. Ele demonstrou que todo intelectual de esquerda não passa de um militante pronto a deturpar ou sonegar informações que possam de alguma maneira pôr em risco seus maravilhosos planos revolucionários.

A esquerda sempre foi ditatorial. E aqui voltamos à notícia. A nota do Exército foi tão simples e dirigida tão somente a alguns poucos que chega a ser espantoso que ela tenha recebido destaque na capa de O globo, protestos da OAB e pedidos de demissão do comandante. Surpresa? Não, na verdade não se trata disso. A esquerda simplesmente quer que o Exército jamais ouse dizer qualquer coisa de positivo sobre os eventos de 1964, e se precisar mentir, que minta. A própria esquerda sempre dá fartos exemplos deste modo singular de conduta, demonstrando aliás que aprendeu perfeitamente bem as técnicas cafajestes de seu guru-charlatão Karl Marx. Não importa se a nota não pretendia ter muita repercussão ou que expressasse um tanto timidamente o que pretendia. O que importa é que ela é vista como foco "reacionário", o qual deve ser extinto a todo custo (a paranóia é um típico ingrediente em mentes ditatoriais). Não importa nem mesmo se apenas uns poucos são francamente anti-esquerda ou digam alguma coisa que os incomde, ao mesmo tempo que há uma massa inumerável a seu favor: sempre a existência de gente de direita os incomodará, e eles se unirão para fazer de tudo a fim de calar quem discorde deles, só variando o grau de truculência.

Sim, por mais que seja desgradável, o Exército chegou ao poder com amplo apoio do povo; sim, ele fez com que o Brasil progredisse de um modo impressionante; sim, desbaratou todos os movimentos paramilitares que colocavam em risco a segurança nacional, com um custo de vidas mínimo; sim, ele soube antecipar-se à revolução comunista dada como certa pelos seus promotores, financiada por Cuba desde 1961, sem contar o apoio dado pela URSS já há tempos. Há muitas coisas criticáveis sobre a administração dos militares (inclusive sobre esse fetichismo, tomado aos esquerdistas, com o termo "revolução", embora não deixa de ser divertido usá-lo contra a vontade deles), mas nada daquilo pode ser considerado perverso por ninguém. O Exército tem não só todo o direito mas obrigação de sempre comemorar o 31 de março. Quanto a nós outros, temos de ter sempre profunda admiração por aquela instituição, pois cumpriram de modo notável a sua missão de defesa da pátria.