Wednesday, November 05, 2008

De como a beleza venceu Obama

Eu, pobre rapaz latino-americano sem um tostão furado no bolso, blogueiro de um leitor só -- eu mesmo --, tolo e presunçoso, darei minha opinião definitiva a respeito das tramas políticas do país mais poderoso do mundo, evidentemente os EUA, a fim de lhes indicar o que é bom, porque não simpatizo com Obama, e sim com McCain.

Todavia, o espírito carioca autêntico que corre em minhas veias está me fazendo mudar de idéia. Não só é preciso mudar de vida, como é preciso mudar de opinião, e sempre para algo mais agradável. Porque ao mesmo tempo que leio que Obama venceu, penso nas potencialidades da Internet, e me dou conta de que é muito mais agradável contemplar a belíssima Ana Paula Arósio do que me meter em discussões políticas de países que nunca visitei e que, ademais, estão distantes de mim bons e saudáveis muitos milhares de quilômetros. Ademais, as impressões políticas voam, as belas perduram.

Seja, pois, Ana Paula Arósio a inspiração deste post, e não Obama.



Estou firmermente convencido de que Ana Paula Arósio é uma das mulheres mais lindas do planeta e de que a beleza tem uma propriedade misteriosa de nos transmitir uma calma arrebatadora. Refiro-me tanto à beleza das coisas como das pessoas.

Isso é menos paradoxal do que parece. Ao mesmo tempo que a beleza nos anima, ela transmite uma sensação de ordem. Sentimo-nos como que transportados para uma outra realidade, se bem que nunca deixamos de ter algum pé nessa. É importante ressaltar esse duplo aspecto, porque é tão tolo negar a manifestação concreta da beleza como negar o grande prazer espiritual que ela nos proporciona. Fujamos tanto do poeta sonhador como do materialista devasso. Afirmo também, desprovido de pretensões de originalidade, que a beleza é misericordiosa conosco, porque é um dos únicos atributos grandiosos do ser, senão o único, que se deixa perceber pelos nossos sentidos, esses lembretes de que o mundo é bom. A beleza entra em nossos olhos e ouvidos, e quando menos percebemos, vivenciamos uma sensação indescritível.

Agora bem: a sensibilidade difere de pessoa para pessoa. Alguns enxergam melhor que os outros, e o mesmo pode ser dito a respeito de cada um de nossos sentidos. A sensibilidade para o belo também varia de pessoa para pessoa. Não me atrevo a discutir acerca da existência de um órgão que capta a beleza das coisas, mas podemos observar, sem dúvida alguma, que certas pessoas estão mais propensas a captar o belo nas coisas, e há aqueles que se sentem muito mais comovidos por ele. Todavia, é necessário dizer que isso não implica apologias de excentricidades. A percepção da beleza não se justifica por si mesma, ou, em outras palavras, uma pessoa com o faro do belo muito desenvolvido não é necessariamente uma pessoa melhor, assim como ler muito não torna alguém necessariamente mais sábio. Bem ao contrário, notamos que tais pessoas não raramente são dadas a excentricidades caso essa hipertrofia do senso da beleza não seja proporcional a algum tipo de suporte para melhor administrá-la. Minhas palavras enigmáticas significam tão-somente que é preciso que toda a personalidade acompanhe de maneira harmônica a capacidade de sentir o belo, pois do contrário o indivíduo erguerá para si uma estátua de esteticismo, entregando-se a todo o gênero de loucuras em nome da beleza. Tal como Zeus fulmina o mero mortal com sua presença, o belo pode fulminar aquele que não tem capacidade de aproveitá-lo tranqüilamente.

Há um paralelo com o amor. Certas pessoas amam mais que outras, mas alguns amam de maneira tão intensa que acabam cometendo loucuras, e o senso comum, na falta de um termo melhor, simplesmente diz que esses desatinos são "loucuras da paixão". Todos percebemos, ainda que confusamente, que a paixão no sentido amoroso é uma força exterior que nos arrasta para junto de quem amamos. Identificando essas loucuras com o próprio amor, o senso comum criou a expressão "o amor nos faz cometer loucuras". Alguns povos, como os gregos, chegaram a divinizar o amor. Agora bem: a frase é equívoca. São Paulo não só dizia que a nossa fé é loucura para os gentios, mas também que a loucura de Deus é mais sábia que nós. Isso significa obviamente que a sabedoria humana é limitada, ou seja, o campo da realidade é muito mais vasto que a nossa capacidade de saber. Ademais, São Paulo igualmente dizia que existe em nós um conflito entre o homem exterior, apegado à carne no sentido bíblico, e o homem interior, seguidor de Deus. Nas relações humanas, essa dualidade se converte em dois tipos de amor: o amor de si e o amor pelo próximo. Em última instância, os dois são antagônicos. Pois bem, quando o senso comum nos diz que o amor nos faz cometer loucuras, devemos entender isso de dois modos diferentes, um positivo e o outro negativo. A boa loucura amorosa nos faz partir a redoma do amor de si para que possamos exercer o amor pelo próximo. Assim como a ira nos compele a agir de modo mais intenso que o normal, o amor pelo próximo nos compele a sacrifícios que não estaríamos dispostos a aceitar numa situação normal, isto é, do amor de si. Logo, o amor pelo próximo nos faz cometer loucuras do ponto de vista do amor de si, e tanto isso é verdade que as pessoas que não amam ou amam pouco estranham certas atitudes dos vivamente apaixonados. Evidentemente, não sentiríamos tamanha disposição por algo desprezível. Identificamos no amado alguma perfeição fundamental, o que explica porque geralmente o amante não concorda com críticas ao amado. A perfeição do amado cria uma disposição de perfeição em nós mesmos, como se desejássemos refleti-la em nossa vida, sem no entanto possui-la completamente. Esse gênero elevado de amor é, grosso modo, aquele mencionado por Platão no Fedro. Por outro lado, há a loucura amorosa com efeitos negativos. Ela é mais uma manifestação extrema do amor de si que de qualquer outra coisa. O objeto do amor é flagrantemente forçado a se comportar segundo os desejos do apaixonado. O desejo de refletir em nossa vida a perfeição do amado vira uma tentativa de absorvê-la totalmente. O ciúme, pelo menos aquele excessivo, é manifestação de uma paixão despropositada. É na clave desse tipo de amor que se move quem se mata em nome da paixão, embora seja preciso deixar claro que estou me referindo a um comportamento wertheriano, e não de quem se sacrifica autenticamente, isto é, por alguém. Esse amor é sinal das instabilidades pessoais, significando, longe daquele aperfeiçoamento do outro tipo de amor, uma piora da vida da pessoa, ou melhor, um vício ancorado em sua vaidade.

Quando mencionei a beleza da pessoa, gostaria de deixar claro que esse é o único ponto. Digo tais coisas porque não quero passar a sensação de que devemos idolatrar cegamente quem é belo ou outras bobagens do gênero. De fato, Ana Paula Arósio possui uma beleza impressionante, mas seria passar do limite do sensato, e acredito que ela concordaria comigo a não ser por alguma vaidade, que não deveríamos tratá-la como uma deusa, da mesma forma que é pedir demais uma divinização de um exímio escritor. Por mais que pareça absurdo, não podemos esquecer que as mulheres, e principalmente as belas, são musas somente de um ponto de vista metafórico, e mesmo assim toda a ressalva é pouca. Essa simples prudência foi ignorada por não poucos afoitos durante muito tempo, e boa parte das nossas decepções amorosas é causada por esse motivo paradoxalmente insólito e corriqueiro. Todavia, devo advertir à leitora que, caso não tenha ficado claro, manifesto um ponto de vista apenas masculino, embora o feminino tenha algum paralelo. As mulheres também têm seus "musos", porém numa perspectiva diferente.

Fecho o post agradecendo, ainda que ela nunca saiba, à bela Ana Paula Arósio pela inspiração. Se não fui bem-sucedido, não é devido a ela, mas à minha incompetência.