Sunday, April 10, 2005

Tolkien, de novo

Dia desses indiquei um interessante texto sobre O Senhor dos Anéis. Agora tive a felicidade de encontrar outro, antigo já de três anos. É de Martim Vasques da Cunha, que escrevia para "O Indivíduo" antes de virar blog. Texto altamente recomendável para quem gostou do livro, é uma análise séria sobre aquela obra de Tolkien e, por tabela, do próprio escritor. Ou seria o contrário? Enfim, colocarei dois trechos para que o leitor saiba em quê se meterá:

"Nunca houve um livro mais mal-interpretado no século XX do que 'O Senhor dos Anéis', de J.R.R. Tolkien. Seus detratores afirmam que é 'um livro muito mal escrito', sem 'a angst de um Wagner', com 'insinuações homossexuais', 'uma pura babaquice de criança', 'uma historinha da carrochinha com duendes e elfos', terminando na mais interessante das conclusões - 'mais um negócio que prova o seguinte ditado: a cada minuto nasce um otário'. Mas o pior mesmo são justamente os seus defensores, fãs que levam o mundo que Tolkien criou durante sessenta anos à uma realidade que nunca existiu, fantasiosa, um meio para a fuga da vida que se transforma em estéril fanatismo e em tudo o que seu criador não queria."

"(...)Não se pode entender 'O Senhor dos Anéis' sem entender o fato de quem era o homem Tolkien e como pensava esse sujeito. Apesar de viver no século XX, J.R.R.Tolkien era alguém que não tinha nada a ver com o pensamento moderno que impregnou nossa civilização. Era um peixe fora da água: católico quando sua Igreja passava pela maior crise espiritual de sua existência durante a Segunda Guerra Mundial, papista quando a figura do Papa era levada a descrédito total, conservador em gostos literários quando todos se impregnavam de 'fluxo de consciência' e de 'estilos fragmentados', obecado pela verdade dos mitos quando o mito era utilizado como paródia por James Joyce e T.S.Eliot. Somado a tudo isso, adicione a revolução urbana, a decadência dos valores tradicionais e a sensação que, com o advento do nazismo e a descoberta dos campos de concentração, o fim de um mundo estava se aproximando com o ritmo inexorável do fatalismo. A Europa não seria mais como antes, e realmente a obra de Tolkien exala um profundo cheiro de nostalgia, em que a saudade de um mundo dá lugar ao empobrecimento do espírito humano."

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