Olá, caro leitor. Contarei inicialmente uma pequena história. Rapidamente você entenderá do que se trata.
Certa vez, três sujeitos tiveram a idéia de criar um pequeno site, com o intuito de simplesmente escrever a respeito de cultura, críticas sobre livros, reportagens, etc, além de disponibilizar um espaço para a divulgação de poemas e textos de vários autores que eles julgassem importantes. Mas como esses mesmos sujeitos já imaginavam a reação de algumas pessoas quando lessem o tal site, bolaram um nome que antecipadamente já arcaria com os muito prováveis insultos que viriam: "O Teocrata".
Quem bolou o nome foi o Francisco Peçanha, que hoje em dia está ocupadíssimo, dando aulas de filosofia, e que vez ou outra aparece na caixinha de comentários do blog do Carlos. Ele teve uma boa sacação, eu e o Carlos gostamos bastante, tanto que até hoje, passados três ou quatro anos, e mesmo após a saída do Francisco, mantivemos o nome, sem cogitar a menor alteração. Ele surgiu antes dessa confusão infernal criada a partir do Onze de Setembro, onde virou moda chamar toda posição religiosa mais enérgica de "fundamentalista", "obscurantista", etc. De certa maneira, parecia que sem querer prevíamos alguma coisa, de modo totalmente obscuro.
Pois bem, "O Teocrata", onde publicávamos textos de nossa própria autoria - o Francisco saiu antes da primeira edição -, agora, reformulado, suporta três blogs (o meu, o do Carlos e o do Rafael, que participa desta brincadeira há pouco tempo) e um fotolog (da Rosselline, que poderia também criar um blog, mas seu pudor e recato são incomensuráveis), além de manter ainda os textos e poesias que já possuía anteriormente, inclusive uma pequena biblioteca eletrônica. Um blog é mais fácil e mais prático para publicação de textos que um site tradicional, daí a nossa opção em não escrevermos mais por lá - pelo menos não diretamente. Isso sem contar que, se já éramos amadores no site, aqui então nem sem fala: é como se atendêssemos as visitas em nossos blogs só de pijama, enquanto no site vestíssemos algo mais apropriado.
Diga-se de passagem que, num passado distante, tentamos levar adiante a idéia de publicar "O Teocrata" como se fosse um jornalzinho e distribui-lo, a preço simbólico, em universidades e alguns outros lugares. Hoje em dia penso que, se tivéssemos de fato levado a idéia adiante, talvez passaríamos por algo semelhante ao que houve com Pedro Sette Câmara, há alguns anos atrás, quando ele e alguns amigos distribuíam, na PUC, uma edição de "O Indivíduo" - na época um pequeno jornal universitário -, na qual ele discordava completamente dessa história para boi dormir que é a tal "consciência negra". Pois imagine se eu publicasse um texto defendendo a necessidade da Revolução de 1964 o distribuísse no IFCS! Ora, se por algo tão bobo quanto uma simples votação para centro acadêmico o pessoal de lá resolveu se estapear, com direito até a garrafadas, sendo eu uma das várias testemunhas daquele paroxismo todo, que aconteceria então se uns "reacionários ignorantes" ousassem defender abertamente algo tão "vil" e "degradante" como o movimento militar de 1964? Melhor: que não haveria de ocorrer quando lessem o primeiro artigo onde houvesse uma crítica ferrenha ao marxismo, ao PT e seja mais que for? Ora, se alguns amigos meus, na época da última eleição para presidente, já eram olhados de cara feia só porque andavam com um folheto onde se dizia que o PT era um partido totalitário enrustido, que dirá se lessem vários artigos associando o Iluminismo à ignorância, o marxismo à ditadura totalitária, os movimentos negros e gays à impostura do politicamente correto, etc, etc?
Mas, como diria Lênin, "que fazer"? Se todos nós temos vocação para escrever, então o jeito seria arcar com as conseqüências. Mas advirto logo que "O Teocrata", embora acabasse por tocar em assuntos como esse, nunca foi pensado de uma forma "política", por assim dizer. O que a gente sempre quis, e continua fazendo através dos nossos blogs, é escrever algo agradável e sobre temas que naturalmente mais gostamos, como por exemplo crítica cultural. O problema todo é que muita gente acaba lendo coisas assim de um ponto de vista puramente político - e burro -, envenenando tudo, como se fossem uma espécie de rei Midas que, ao invés de transformar aquilo que toca em ouro, transformasse tudo em cocô, acreditando piamente que de fato as coisas não passam de esterco. Talvez algum leitor que não tenha o costume de lidar com situações assim ache isso tudo muito esquisito, e de fato o é. O simples fato de escrevermos um pequeno texto sobre o cristianismo ou publicarmos um poema cujo autor é alemão, juntamente a uma crítica negativa, mesmo que superficial e fortuita, ao marxismo, é motivo para que sejamos considerados "membros da elite preconceituosa brasileira", "fundamentalistas", "nostálgicos da Idade Média", "fascistas que não mostram a cara", e demais lindezas aparentadas. E digo ainda, meu caro leitor, que estamos muito longe de sermos os únicos a passar por coisa semelhante. Todavia, os pentelhos virtuais não poupam a bolsa escrotal de ninguém, inflando até mesmo a de sujeitos tão desconhecidos e irrelevantes quanto nós, ainda que esporadicamente, mas sempre de modo característico.
É por este tipo de coisa que volta e meia digo alguma coisa sobre a loucura deste país. Não é possível nem escrever a respeito de cultura em geral sem ser considerado um indivíduo "politicamente errado". É verdade que existem muitas pessoas que não pensam dessa forma, mas parece que nosso solo é mais propício, como nenhum outro, a gerar idiotas. E como diz o provérbio, "é infinito o número de tolos", só faltando acrescentar "no Brasil". Vai ver está implícito, sei lá.
Outro dia publicarei um e-mail que recebi hoje, onde fica bem claro que tipo de disparates um retardado exemplar profere quando conhece um site do gênero de "O Teocrata", que só tem algo chocante na cabeça aloprada de um retardado, exemplar ou não. Até, até.
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