A atual polêmica a respeito das declarações do deputado Roberto Jefferson sobre esquemas de corrupção é mais outro claro sintoma do mal que assola este país. Não, não reclamo, como habitualmente se faz hoje em dia no Brasil, da existência da corrupção nos altos setores da administração pública. O problema é outro: da ordem de hierarquia de valores.
Sei bem que este início ficou um tanto obscuro ao leitor, mas já explico. Que você acha mais grave: um caso de corrupção entre deputados federais ou as (sórdidas) relações do líder de uma nação com grupos de terroristas, narcotraficantes, ditadores, etc? É mais grave um desvio de verbas públicas ou o financiamento para campanha presidencial cuja origem parece vir, dentre outras, de grupos de narcotraficantes? A segurança nacional está mais ameaçada graças a existência de um politicozinho corrupto ou mediante a articulação, neste próprio país, de um sem-número de grupos com o intuito de instaurar, da maneira mais discreta possível, uma revolução socialista?
Ora, demonstrar asco infinito a um caso de corrupção mas desprezar olimpicamente todas as evidências de ameaças à segurança desta nação não só é uma reviravolta na hierarquia dos valores como igualmente uma traição à república.
Os antigos, muito mais sábios, jamais se iludiram quanto a isso. Quando Catilina ousou arquitetar um golpe para tomar o poder em Roma, Cícero lhe desbaratou o intento. Da mesma forma, quando Pausânias quis se mancomunar com Xerxes, os lacedemônios, ao descobrirem seus planos, trataram de lhe infligir pena exemplar. Agora bem: imaginem se Cícero ou os éforos considerassem mais importante de combater o desvio de rendas públicas que a investigação de indícios de crimes contra a segurança de seus países! Pior: dentre dois crimes, desvio de dinheiro público e traição à pátria, eles considerassem mais terrível o primeiro e se omitissem completamente em relação ao segundo? É lógico que as suspeitas de traição recairiam tanto em Cícero quanto nos éforos, e quanto mais eles demonstrassem toda a indignação do mundo contra a corrupção, sempre às custas de investigações sobre possíveis perigos à segurança de seus respectivos países, maior seria o motivo de desconfiarmos de seus "zelosos" governos.
É neste caso que atualmente chegamos, aqui no Brasil: todas as evidências, muitas delas bem concretas, apontando atitudes no mínimo censuráveis deste governo e de muito grupos que o apóiam, são solenemente ignoradas. Por exemplo, muito mais grave que este atual caso foi a denúncia de que as FARCs também financiaram a campanha presidencial de Lula. No entanto, a reação geral foi de desprezo olímpico para com estas acusações. Por outro lado, a simples menção a um caso de desvio de verba pública causa tanto alvoroço que inclusive ouvi de um jornalista que "as bases da nação foram estremecidas"! Isto é o cúmulo da loucura, meus amigos!
Independente do resultado dessa tal CPI dos Correios, independente da investigação acerca das declarações deste deputado, enfim, qualquer que seja o resultado de tudo isso, o fato é que nossa república está se matando aos poucos. Aliás, cada vez mais rápido, e de tal maneira que pelo menos para mim é difícil imaginar de modo otimista como este país será daqui a vinte, trinta anos. É preciso ser muito ingênuo para crer que uma reviravolta de valores que tão cruelmente vai contaminando esta nação, e cujo sintoma podemos averiguar em discussões apaixonadas como nesta atual polêmica, seja por um passe de mágica ou mudança de governo curada. O problema não é o PT ou o MST, meus amigos. Eles são apenas um sintoma.
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