Havia numa aldeia um ancião que vivia solitário e em meio a muitíssimos trabalhos. Sua vida era triste e ele jamais se conformara com sua situação.
Durante um dia em que foi buscar lenha na floresta, assim que retornava para sua casa sentiu uma tristeza enorme em seu coração, como nunca antes. Era a revolta contra a vida. O dia lhe pareceu especialmente feio, embora o sol brilhasse como nunca. Aquela floresta, que sempre lhe acolhera, naquele momento lhe parecia um túmulo. O som dos pássaros parecia um deboche da natureza apenas contra ele. Ele se sentia arrastado por uma não sei qual força a sempre e sempre padecer. Daí que subitamente parou, atirou as pesadas lenhas que carregava nas costas ao chão e começou a suplicar pela vinda da morte.
Contudo, eis que, de repente, o sol foi barrado por uma nuvem cinzenta. Os animais se calaram. Um frio vento assobiou. E de repente, perante a si mesmo, o ancião, não sei com quantos calafrios, viu se aproximar ninguém menos que a própria Morte, em todo seu enigmático esplendor! Esta, aproximando-se do infeliz, disse em voz gutural:
- Ancião, ancião... Para que tu me tiraste de minha tranqüilidade e me convocaste? Vamos, fala.
Ele, então, ouvindo tais coisas, foi tomado por um súbito apego à floresta, aos sol e aos bichos que haviam se calado e, como se tivesse sido inspirado por algum ser superior, imediatamente lhe respondeu:
- Apenas te chamei para que me ajudes a carregar estas lenhas, cara amiga!
E a Morte riu, mais uma vez constatando que o comum de nós, nos momentos da última aflição, busca se apegar como nunca a este mundo de justiça imperfeita, ainda que mal saiba se melhor não seria aquele outro, além. Só a Morte o conhece, e só ela pode de fato rir.
*Baseado na fábula homônima de Esopo.
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