Tuesday, October 18, 2005

Ainda sobre o que houve no Colégio de Aplicação da UFRJ

Em nenhum país democrático o cerceamento de opinião, e ainda por cima de modo hostil e descarado, é considerado digno. E quanto mais preza um país pela liberdade, mais cuidadoso ele se torna ante a manutenção desse direito tão basilar de qualquer nação moderna.

Muito mais grave é quando buscam cercear um professor de filosofia, sob a alegação de que seus ensinamentos estão em choque com o consenso geral. Ora, se tal afirmação é, na minha opinião, problemática já dentro da própria Igreja, imaginem então em um estabelecimento de ensino!

Ora, a qualidade do ensino se dá na medida em que ele é verdadeiro, autêntico e radical. Em filosofia são essas algumas de suas característcas mais importantes. Se uma instituição alega que isso fere o consenso, pior para ele. Não se faz filosofia sem crítica do saber. Se uma escola resolve abrir uma cadeira de filosofia, que arque com as conseqüências.

Independente de ser meu amigo, a expulsão do Prof. Francisco Peçanha do Colégio de Aplicação da UFRJ é uma afronta não só aos princípios básicos de liberdade de expressão como da Filosofia (com efe maiúsculo mesmo). Se ele ensinava bem ou mal, isso não importa na discussão: o fato é que ele foi expulso simplesmente por dizer uma série de coisas que, na visão do Colégio e dos alunos-massa, era por demais "politicamente incorreta" e/ou imprestável (como Aristóteles, Sócrates, Platão e os Pré-Socráticos, já que não cairia no vestibular, segundo um dos alunos...)

Antes de mais nada, tenho de dizer uma coisa ao leitor: não é minha intenção esquentar a polêmica, mas apenas expressar minha estranheza quanto ao fato. Não conheço os pormenores da história, porém o pouco que sei já me deu vontade de escrever a respeito.

Ortega y Gasset dizia que as massas, quando agem, só o fazem violentamente. Pois até agressões físicas o professor sofreu. A Direção não só nada fez de modo enérgico como demitiu o professor, dando aos alunos, retroativamente, razão.

O Prof. Francisco identificou naquela escola as conseqüências da pedagogia de cunho marxista. Tanto a reação da Direção quanto a dos alunos-massa, para mim, não deixam dúvidas.

Tenho amigos que pensam em dar aulas no segundo grau de filosofia. Imagino que se eles realmente quiserem dar uma aula decente, terão de arcar com coisas desse tipo (na melhor das hipóteses, uma indiferença geral). Talvez professores de outras disciplinas passem por coisa semelhante. Está cada dia mais difícil disfarçar a intolerância nas escolas e faculdades.

PS - Há na comunidade "Escola sem Partido", no Orkut, relatos sobre o ocorrido. E no texto "Diferença Radical", de Olavo de Carvalho, há uma pequena menção ao assunto.

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