Fiquei umas duas semanas acompanhando as CPIs da vida que estão rolando por aí. Conclusão: eu, além de não conseguir mais somar com eficiência números para lá dos dois algarismos, muito menos dividi-los ou multiplicá-los (subtrair estou muito acostumado, dada a minha constante perda de vinténs), comecei a ficar com preguiça de ler qualquer texto que tivesse a palavra "logicamente", ou que fosse superior a seis linhas. Parecido com a forma com que alguns índios contam, comigo agora estava sendo um, dois, três, chega-senão-pulo-deste-trem-e-ainda-processo-o-Estado.
Eu havia me esquecido como as notícias voam e carregam a gente junto para o caos. São tantos fatos e tão contraditórios uns com os outros, senão terrivelmente chatos, que não seria estranho se depois de uns dez telejornais a gente mordesse nossas próprias mães e lambesse a bota de quem nos maltrata. E uma das poucas exceções é o programa "Os Vídeos Mais Incríveis do Mundo", tão interessante que faz com que cogitemos se não seria mais adequada a existência de uma pluralidade de mundos.
Tenho de admitir que não consigo muito bem administrar as coisas. Estar constantemente informado e estudar Max Scheler é, no mínimo, equivalente a assobiar e chupar cana. Ou eu fico sabendo que foi Tião Macalé - todo mundo na tevê participa da idéia de Tião Macalé - que fraudou a previdência, ou leio uma boa definição de homem e sua posição no cosmos, uai! Terceira opção não dá.
Será que é o vácuo do ambiente que nos arrasta até o chão? Em algumas regiões deste mundo a gravidade se faz sentir com maior intensidade. Exemplo bobo: Brasil. Às vezes tenho a sensação de que a única coisa que dá para fazer em certos dias é voltar rolando para minha casa, sendo que estou bem longe de ser considerado um gordão, muito menos "step". Aliás, por falar em Brasil, dia desses que estava pensando em como seria uma versão brasileira de "A Flauta Mágica". A Rainha da Noite seria ou uma prostituta ou um traveco, e suas árias seriam algo como "vilão, não pagou e me deixou na mão!", com uns índios berrando no fundo. Mas tal assunto fica para outro momento.
Há dois ideais excelentes para o início da formação de um jovem. O primeiro é mais ou menos como no filme "Rapanui", quando as meninas daquela remota ilha se tornavam moçoilas: trancafiá-lo numa caverna por oito meses - no mínimo. Vejam que belíssimas coisas não surgiriam caso todos os jovens fossem enclausurados por, digamos, três anos, sem contato algum com o mundo exterior, apenas com a monarquia de si mesmos, porque nós nos controlamos de maneira monárquica. Tenho a certeza que, caso não houvesse uma enxurrada de novos sábios, ao menos uns dois terços de besteiras não surgiria. O segundo é uma espécie de imitação de uma curiosa lei ateniense, cujo nome é tão horrível quanto a (in)conseqüência dos atos de alguém que, graças a uma lei sua, provocasse danos à cidade, sendo ele totalmente responsabilizado, e não a Assembléia que a votou - pois ela teria sido conduzida erroneamente pelo infeliz: "Graphe paranomon". Mas segundo meus ideais de formação, se um jovem, graças ao mau ensino de um adulto, cometesse besteiras, seria o adulto totalmente responsabilizado, enquanto o jovem teria de praticar a abstinência até os vinte e cinco anos. Acreditem, não há mal maior que obrigar a se calar um adulto que adora ensinar bobajadas ou proibir que os jovens descontrolados de hoje façam sexo. Talvez uma parte significativa tivesse até de ser acompanhada psicologicamente.
Como ninguém será nem enclausurado pelos motivos que defendo, muito menos obrigado a praticar abstinência, então que se danem. Quanto a mim, sujeito e objeto deste texto (ha!, tomem aí, filósofos, que nunca pensaram que alguém pode ser ao mesmo tempo sujeito e objeto!), tentarei retornar sem maiores preocupações à rotina tranqüila que sempre tive: "Gilmore Girls" para lá, alusões a "Seinfeld" para cá, músicas, leituras, filmes, boxe e similares. Ser bem informado é coisa de canalha.
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