Saturday, March 12, 2005

O jogo esquerda-direita

Eu escreveria sobre uma coisa qualquer, porém felizmente topei com um extrato de O século do nada, último e mais combativo livro de Gustavo Corção, no bom site Permanência. É o capítulo II, livro I, chamado O jogo esquerda-direita, que pode ser lido aqui. Recomendo fervorosamente aos leitores deste blog, ainda que sintam preguiça por causa da extensão do texto, pois nada mais útil, em relação a um tema tão cheio de falácias, expugarmos nossa tolice, como diria mais ou menos o próprio Corção.

Mais um comentário: é impressionante como este jogo foi difundido e gruda em nossos cérebros como chiclete no sapato. Talvez pela simplicidade e comodidade do (falso) raciocínio, atribuindo tudo de bom à esquerda e tudo de ruim à direita, ou então criando falsas dicotomias (como por exemplo opor justiça, que seria de propriedade da esquerda, à ordem, propriedade da direita, ou liberdade-esquerda e autoridade-direita, etc.), quem quer que caia nessa gandaia intelectual terá o cérebro transformado em pamonha. Daí que não é à toa que é difícil convencer alguém intoxicado até a medula com o jogo esquerda-direita que o comunismo, longe de ser libertário e herói da justiça, é uma proposta completamente ditatorial e promovedora de injustiças por todos os cantos por onde é semeada.

Ah sim, e o artigo demonstra a tremenda mancada de Maritain, que entrou muito catita nesse esquema. Aliás, o livro é recheado de mancadas de Maritain - uma das coisas mais assombrosas do século passado, a julgar a inteligência do filósofo, e que de certa maneira representa as mancadas de boa parte da Igreja sobre o assunto, o socialismo. O neotomista é um caso sui generis, pois em se tratando do conjunto de sua obra, parece que devemos levar a sério tudo o que escreveu sobre filosofia e jogar fora tudo que ele disse sobre política, sociedade, etc, etc - dentro do contexto do século XX, em relação ao socialismo.

Agora chega, pois vou beber água e fazer alguma outra coisa, pois até quem escreve para blogs tem mais o que fazer, por mais assombroso que isso possa parecer a alguns.

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