Sunday, March 06, 2005

Great Books

Na década de 50, enfim foi publicada a coleção Great books of the western world (Chicago, Encyclopaedia Britannica, Inc., 1952, 52 vols; na segunda edição, em 1990, ela foi aumentada para 60). Ela foi criada graças aos esforços de dois homens, Mortimer Jerome Adler, um dos maiores educadores americanos do século XX, e Robert Maynard Hutchins. Em Great books encontramos reunidos autores das mais variadas estirpes, tais como Homero e Freud, Kant e Newton, Lavoisier e Faraday, Virgílio e Aristóteles, Galeno e Euclides, Ptolomeu e Cervantes, Marx e Eurípedes, e muitos outros. Como uma introdução há um livro à parte chamado The great ideas, a syntopicon of great books of the western world (em 2 vols, também pela Encyclopaedia Britannica, Inc., 1952, segunda edição de 1990).

A coleção segue uma ordem cronológica. Começa com a poesia de Homero e com o Velho Testamento, varando os séculos até chegar, enfim, no século XX. É como se seguisse um roteiro. A leitura seqüenciada é útil porque não raro um autor se refere ao seu mestre e predecessor, tornando claro para nós o desenvolvimento das mais diversas questões.

O conteúdo de cada volume é dividido por autor, salvo em alguns casos de proximidade de um mesmo assunto: aí autores são agrupados em um único volume. Assim, por exemplo, o quarto é dedicado apenas a Homero, enquanto o quinto é dedicado a Ésquilo, Sófocles, Eurípedes e Aristófanes, ou seja, o teatro grego. Gente mais gulosa como Aristóteles, Sto. Tomás de Aquino, Shakespeare e Gibbon abocanhou dois volumes cada.

Um problema que salta aos olhos de qualquer um é o do critério da escolha dos livros para a coleção. Não é uma questão das mais fáceis. Mortimer Adler, no entanto, disse certa vez que não foi um, mas três os critérios adotados:

O primeiro era o significado contemporâneo do livro - relevância para os problemas e questões importantes do século XX. Os livros não foram feitos para serem olhados como relíquia arqueológica - monumentos em nossa tradição intelectual. Eles seriam obras que tanto nos interessa hoje quanto na época em que foram escritos, ainda que há séculos atrás. Eles são portanto eternos - sempre contemporâneos, e não confinados a interesses que mudam de tempo em tempo ou de lugar em lugar.

O segundo critério foi sua infinita readaptabilidade ou, no caso das mais difíceis obras matemáticas ou científicas, sua análise incessante. A maioria dos 400 mil livros publicados a cada ano não vale a pena ler nem mesmo uma única vez; bem menos de mil a cada ano vale a pena ler novamente. Quando, o que não é freqüente em qualquer século, um grande livro aparece, vale a pena lê-lo de novo e outras vezes. É inexaustivelmente readaptável. Não pode ser completamente entendido em uma, duas, ou três leituras. Mais é para achar em toda leitura subseqüente. Isso é um critério exato, uma idéia que é completamente atendida por unicamente um pequeno número de 511 obras que selecionamos. Ele é aproximado em vários graus pelo resto.

O terceiro critério foi a relevância da obra para um número bem extenso de grandes idéias e grandes questões que ocuparam as mentes de pensadores individuais dos últimos vinte e cinco séculos. Os autores desses livros pegaram parte na grande conversação, não somente para ler obras de muitos de seus predecessores, mas também para discutir muitas das 102 idéias tratadas no
Syntopicon. Em outras palavras, os grandes livros são os livros nos quais a grande conversação ocorre sobre grandes idéias. É o conjunto de grandes idéias que determina a escolha dos grandes livros.

M. Adler, em Como ler um livro, disse que buscava oferecer uma educação liberal. Seria uma baseada nas antigas artes liberais medievais. Elas eram divididas no trivium (gramática, retórica e dialética) - a arte das coisas humanas e do bem falar, discutir e raciocinar - e o quadrivium (aritmética, geometria, música e astronomia) - arte das coisas do mundo e do segundo patamar de abstração. Auxiliada pelos mestres através do contato direto com as fontes em Great books, uma pessoa entraria em contato com a tradição que lhe foi legada e teria uma compreensão superior dos problemas fundamentais do mundo, podendo muito bem dar-lhes inclusive solução prática. Daí que M. Adler vislumbrava esse ensino como uma forma de desenvolvimento da liberdade dos cidadãos.

Tal é, em poucas palavras, a importância do Great books. Embora até hoje existam discussões sobre o cânon que ficou estabelecido na coleção, o fato é que ele reúne o mínimo que precisamos para sermos bem educados e trabalharmos bem a nossa inteligência. É uma leitura nas fontes, que nem sempre são fáceis de compreender, mas que são sempre extremamente férteis. E o próprio Adler, em meio de suas centenas de livros, dá várias dicas para uma melhor compreensão dos livros.


Mortimer J. Adler (1902-2001)


Robert Maynard Hutchins (1899-1977)



Coleção Great books of the western world

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