Vida que insiste em ser vivida,
Por que não cessa de uma só vez
Este tormento que me alucina,
Que transtorna minha vista,
Que desmembra meu corpo todo
E, como água, espalha-o no chão
Para me confundir completamente?
De que adianta erguer meu rosto
Para contemplar, admirado, apenas
Um ponto luzente no céu escuro,
Se dele não ouço coisa alguma,
Se um palmo sequer meus olhos vêem,
Se sou atacado por todos os lados
Por uma dúzia de monstros de chifre?
Ah!, se tenho sede - e sede terrível -,
Como posso ao menos dizer algo
Se não sei o que pensar ou mesmo
Para quem me dirigir, e se a idéia,
Que de repente queima minha mente,
Surge confusa na minha garganta
Mas a língua gruda no céu da boca?
A única coisa firme que sinto aqui
É o chão sob meus pés: será que
A vida a ser vivida é um arrastar-se
Perpétuo na relva para, me humilhando
Aos olhos do povo, eu prosseguir
Aos poucos adiante, nunca mais
Ouvindo, enxergando ou falando?
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