Wednesday, January 19, 2005

Alexander

Se o leitor achou que pelo título eu faria algum comentário geral sobre o filme de Oliver Stone, enganou-se. Pode conseguir coisa assim lendo uma entrevista com um historiador ou comentários de alguém que detestou o filme.

Posso até imaginar alguém se perguntando: Mas então esse sujeito quer escrever sobre o quê? Ora, Aristóteles aparece no filme. E meus ouvidos aguçados iguais a um bicho-que-não-lembro perceberam uma coisa estranha, dessas que só gente neurótica faz questão de perceber e corrigir. Quando em off a voz de Ptolomeu (ele é o narrador do filme) apresenta Aristóteles, diz o seguinte: "(...) e trouxe Aristóteles de Atenas para ensinar (...)", ou coisa parecida. Foi esquisito, mas deixemos por enquanto isso de lado para primeiramente vermos como ficou Aristóteles depois de quase dois mil e trezentos anos após sua morte aqui.

Quem incorporou o Estagirita foi Christopher Plummer, que se não me engano fez A queda do Império Romano. Bom, para quem não sabe, Aristóteles, quando tutor de Alexandre, tinha uns 43 anos anos. Ora, tudo bem que Plummer poderia passar por um Aristóteles mais velho, porém se com aquela idade Aristóteles tinha já cabelo e barba tão branca, além de andar de bengala, então parece que naquela época as pessoas eram mais acabadas. E pior de tudo que ginásios havia para se exercitar, o que talvez demonstre que o pobre Estagirita ou tinha algum problema genético ou, além de ter levado uma vida extremamente sedentária, se rendeu à bebida e às noites áticas em sua juventude, contrariando sua própria Ética e o que aprendeu de Platão. Ou, ainda, parecia que tinha mais de sessenta por causa de um longo desgaste físico devido aos seus fatigantes estudos, o que redimiria seu visual para a história.

Além do problema da velhice precoce, houve aquele outro que citei linhas acima ("(...) e trouxe Aristóteles de Atenas para ensinar (...)"). Quem disse isso foi Ptolomeu (Anthony Hopkins) já bem idoso, o que talvez demonstre que já estava meio esclerosado. A frase é equívoca. O leitor pode justamente se perguntar se Ptolomeu gagá/Hopkins quis dizer que Aristóteles apenas saiu de Atenas para ensinar Alexandre ou se Aristóteles era ateniense, pois era normal no mundo grego as pessoas terem como sobrenome seus locais de nascimento (cidades e aldeias). Porém ambas as hipóteses são falsas. A primeira porque Aristóteles não veio de Atenas, mas de Mitilene, para lecionar a Alexandre (se o leitor tiver curiosidade sobre o assunto, pode ler o Aristóteles, segunda parte, cap.V, de Werner Jaeger ou simplesmente entrar neste site e conferir.); a segunda pelo simples fato de Aristóteles ter nascido na Estagira, pequena cidade na Trácia perto da Macedônia e bem distante de Atenas.

Fora isso, não lembro de mais nada para reclamar sobre a participação do Estagirita no filme. Ao menos por enquanto. É que gente neurótica como eu gosta de esmiuçar tudo nos mínimos detalhes e reclamar sem parar, tanto que estou comentando sobre um personagem que não apareceu nem por dez miseráveis minutos num filme de três horas e que não teve importância quase nenhuma para o enredo. Agora, sobre o filme mesmo, não direi nada, pois basta lembrarmos um Alexandre Magno igual ao Colin Farrell.

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