A coisa mais chata que existe são esses blogs onde a pessoa faz questão de contar única e exclusivamente eventos de sua vida. Pelo menos eu, lendo-os e relendo-os, não consigo evitar um bocejo e um sinal de desaprovação. Porém, vividamente sinto meu fígado girando quando me deparo com um daqueles fotoblogs. É muito, muito, muito chato. Nunca atinei o motivo, porém a forma mais simples de encontrarmos um barnabé é acessando uma dessas coisas. E as mensagens – oh, horror! – dos amigos apenas justificam que, decididamente, somente pessoas que participam timidamente da humanidade gostam daquilo. Não compensam as eventuais fotos de moças bonitinhas. Quer dizer, compensam só um pouquinho, não o suficiente.
Se pensarmos com carinho, concedendo onde houver verdade, veremos que o problema não está tanto em contar sobre nossas vidas, pois isso é até um desejo natural, mas em seu conteúdo. Aqui há um divisor de águas. Há uma diferença entre a vida de um Alexandre Magno ou um César e a da Vivi, amiga da Fê, que adoram ir à praia e ao shopping, sempre choramingando quando o tempo fecha, ou então da Suzana, que é mais séria, mas mesmo assim mantém teimosamente a mania de nos oferecer um espetáculo do nada.
Exemplo de blog da Vivi, amiga da Fê (e sem esquecer, leitor, que as letrinhas são coloridas):
oiezzz!! NoIzzz tÉmUsss Ki PaSsAr Na PrAiA! Má xó Xovi :////! BeJusssss!! :***
O da Suzana é uma variação sobre o tema da Vivi, amiga da Fê:
Gente!
Esse tempo brinca comigo! Na hora que ponho aquele biquíni já com cheiro de naftalina (tanto tempo que o sol não vem), mas logo que coloco meus pezinhos para fora cai o toró. Entro; então para. Retorno; continua. Ninguém merece!
Vamos torcer, dedos cruzados! Operação-Verão!
Para mim – e para muita gente – seria uma alegria deparar com um blog escrito por Alexandre Magno. Imaginem só como seria:
Alexandre aos leitores, saúde.
Neste dia, atravessei o Helesponto. Julgo que facilmente desbaratarei os exércitos bárbaros do Rei. Não tenho dúvidas que conquistarei a Ásia. Aproximo-me do Granico rapidamente, muito embora meus homens o receiem por sua profundidade. Seria uma ofensa ao Helesponto se, tendo-o atravessado, o Granico me impedisse! Meus afazeres me proíbem de alongar o texto. Quando a Pérsia for minha, enviarei por e-mail minha foto nas portas da Babilônia. Adeus.
Ou um de Júlio César:
César aos seus leitores, salve.
Tendo se aproximado do Rubicão, César hesitou muito em atravessá-lo. E ainda não o fez, tendo em vista o que está em jogo. O general permanece pensativo. César acha que as opiniões dos seus leitores seriam levadas muito em consideração. Deixai comentários sobre este tão auspicioso evento. Valet.
Não há dúvidas que muitos acompanhariam bem ansiosos as aventuras destes dois homens. Centenas e centenas de acessos seus blogs (Bucéfalos e Veni Vidi Vici, respectivamente) receberiam todos os dias.
Como nem eu nem a maioria das pessoas que compõem a humanidade são césares ou alexandres, muito embora haja raskolnikoffs da vida que pensam sê-los, então seria de extremo bom gosto evitarmos chilrear sobre nossas vidas e passássemos para outros temas. Ah não ser, é claro, que de um tema pitoresco se crie ótimos textos. Eu seria o primeiro a lê-los com orgulho.
PS: Este aqui é um exemplo bom daquela receita que eu disse. O filósofo algumas vezes parte de um evento de sua vida para desdobrar num tema interessante. Digamos que aqui esteja um bom exemplo da diferença entre o ter e o não-ter que dizer.
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1 comment:
Adorei o texto!! E concordo contigo: blogs pra que te-los? bjs :)
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