Esse dia chuvoso me lembrou da vez em que eu e vários antigos amigos defendíamos as Termópilas, sob a fúria das torpes flechas do Grande Rei. Que coisa agradável atravessar o peito do bárbaro com nossas lanças meio toscas mas que na época eram o que de melhor havia! Tenho uma certa nostalgia daqueles idos.
Digo isso sem menosprezar, claro, também as boas cargas de cavalaria que participei em diversas ocasiões ao longo da Guerra dos Cem Anos. Infelizmente, aqueles patifes ingleses puseram um termo a essa bela distração, com seus esfomeados arqueiros sustentados a preço de banana. Se já nos tempos das Termópilas eu considerava o uso de flechas coisa de gente covarde, imagine então na melhor das épocas da história, aquelas em que a gente podia usar armadura e espada sem parecer um idiota, ter de confrontar aquela ralé que, medrosa, mal chegávamos perto e já se dispersava confusamente?
De cargas de cavalaria, a última que conheci e gostei bastante foi aquela do Churchill. Onde li mesmo isso? Na sua autobiografia? Céus!, esqueci o nome do livro, mas lembrarei nalgum momento. Enfim, ele também participou de uma carga. Hmm, mas antes de continuar, minha sabedoria prática me alerta que talvez um ou dois leitores não saibam o que significa esta tática de batalha. Bom, é mais o menos o seguinte: imaginem uma formação compacta de cavalaria, pessoas bem próximas umas das outras, talvez uns dez, vinte ou trinta cavaleiros, avançando velozmente para literalmente passar com o cavalo em cima dos soldados a pé ou para se chocar contra outra cavalaria (recomendação: assistam Coração Valente, no episódio da Batalha de Falkirk, onde quase dá certo a carga inglesa se não fossem as lanças de Wallace; ou Lancelot, aquele com Sean Connery e o insosso Richard Gere, onde há um choque entre duas cavalarias mais para o final do filme – e percebam como, além dos tradicionais anacronismos em filmes sobre Idade Média, que os uniformes dos cavaleiros da Távola Redonda parecem demais com o do pessoal da Enterprise, só mudando a cor), tudo em questão de segundos. No caso do Churchill, foi muito legal como ele descreveu sua carga, com o detalhe do exército inimigo ter gente com armas de fogo! É sério, dá vontade de ser inglês da virada do século XIX para o XX só para ser oficial de Sua Majestade e participar de uma batalha contra um desses bárbaros africanos ou asiáticos. Mas pouparei o relato de sir (já ia me esquecendo do título) Winston Churchill ao leitor, pois é mais emocionante lendo a fonte que fazer um sumário.
Ah, a cavalaria... Segundo lendas, até na Segunda Guerra Mundial usaram a cavalaria. Pena que foi contra tanques... Foi num combate entre poloneses e alemães, onde os últimos passaram com seus tanques pelos cavalos dos primeiros. Não deve ter sido uma coisa muito bonita de se ver.
É uma pena que hoje em dia não posso mais combater a boa luta como nos tempos das Termópilas, dos séculos XIII, XIV e XV e da época de sir Churchill. Talvez se eu tivesse nascido muito tempo atrás, podia até lutar no Paraguai, mas não seria a mesma coisa, embora talvez fosse algo curioso observar o Almirante Tamandaré literalmente atropelando as frágeis naus paraguaias, num estilo de batalha naval dos tempos de Pompeu ou até de bem antes. E me incomoda essa impossibilidade. Pois quem de nós que já partiu ao lado de Xenofonte e capitaneados por Ciro, o Moço, não é nostálgico dos bons tempos em que se podia comprar suas própria lança e armadura e, se fosse o caso, liquidar alguém sem ter de fazer tratamento psicológico ou dar entrevistas sobre a verdade crua da guerra? Já se foram aqueles bons tempos, meu e teu, potencial amigo leitor. O tempora! o mores!
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