Thursday, June 08, 2006

Três métodos de avaliação de sábios

Você pode avaliar o sábio em questão vendo se ele já tratou alguma vez do amor. Se ele nunca escreveu nada sobre o assunto, então ele sabe tanto de gente quanto nós de viagem no tempo. Portanto, seu conhecimento é supérfluo para o que temos de mais radical, problemático e autêntico: a nossa própria vida. Que adianta, radicalmente falando, ser um virtuose da física?

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Há também um outro jeito, interligado ao primeiro. Veja se ele já tratou seriamente sobre a pessoa. Se nunca disse uma palavra decente a respeito, fuja: sua filosofia é totalmente inútil. Na melhor das hipóteses, um belíssimo acessório.

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Agora o derradeiro método. Perceba se ele só fala sobre coisas. Há uns que colocam um muro de coisas entre eles e as pessoas para poder se esconder. Como exemplo, os físicos, matemáticos, etc. Mas veja. Se ele só fala sobre o quê, e não quem, também ouso dizer que sua filosofia, se é que podemos chamar algo assim de filosofia, não vale nada de fato.

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Faço apelo ao leitor inteligente que não interprete tudo isso como uma birra contra a física-matemática. Pelo contrário, eu a adoro. Jamais na história do mundo um conhecimento ofereceu coisas tão espantosas para nossa comodidade. Mas há limites. E é uma impostura tremenda utilizá-la para todas as instâncias da realidade. Entricheirar-se nela é um modo de ser tacanho, muito embora um tacanho que pode ser estupendamente virtuoso nesse campo. Confesso que ela é extremamente elegante e sedutora, porém já passou da hora de nos livrarmos de seus efeitos residuais mais tacanhos. (Digo residuais porque estou longe de ser o primeiro a criticá-la; não falta gente que já demonstrou a necessidade de um outro tipo de saber que nos forneça algo vital e autêntico acerca de nós mesmos.)

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