Sunday, June 04, 2006
Texto para a leitora
Leitora, sei que vocês mulheres vivem reclamando que nós homens queremos saber apenas de mulher gostosona, nada de compromissos, etc. Mas vocês têm de pensar também numa coisa. Quantas de vocês foram um Newton, Mozart ou Machado de Assis? Você, cara amiga, já se deu conta disso? E no entanto nós vivemos aos seus pés. O mais genial dos homens, perto de vocês, é um tolo inseguro, suando para que a mocinha lhe acene favoravelmente. Caso ele dê sorte, tal fato lhe queimará o coração muitíssimo mais que qualquer fórmula química, tratado metafísico ou concepção de engenharia sublimes que ele possa muito imaginar. (Taí o velho Goethe, já em vida aclamado como a glória da Alemanha, perdidamente apaixonado por uma mocinha de menos de vinte anos, que não me deixa mentir.) Isso porque vocês, leitora, valem muitíssimo mais que qualquer uma daquelas coisas. Podem ser menos geniais que Newton. Mas é que a profundidade de vocês é de outra ordem. Para te ser franco, nós, a rigor, sem o nosso intelecto não somos nada. Mais: corremos de um lado para o outro, lutamos até a morte e descobrimos verdades intrincadíssimas porque temos de fazer alguma coisa para sermos algo, e de preferência algo grandioso, porque assim seremos verdadeiros homens para vocês. Se nossa vida interior fosse maravilhosa, haveria necessidade de tantas coisas desse tipo? Já vocês, bem, vocês não precisam de nada disso porque por si mesmas são tudo, incluindo a gente, pois nós só nos encontramos em plenitude no coração de vocês. Um homem só é de fato homem quando alguma mulher assim o percebe. E ser público é coisa nossa, porque o interior pertence a vocês. Não é à toa que os nobres medievais consideravam o estudo um tanto efeminado, já que o estudo tem algo de interior, portanto feminino. Só que vocês, minha amiga, são de outra ordem. Tanto é verdade que a mulher menos considerada é aquela mais próxima de nós: é a mulher pública, a puta. Ela é menos mulher que vocês. Exposta a todos, sem o menor segredo, é como o homem que está aí, na tribuna, na imprensa, na TV, que fora seus afazeres não tem tanta intimidade. Não há muito mais a revelar de si mesmo. Nossa vida é menos vida. Já a de vocês é todo o contrário; porque vocês têm um interior mais profundo e melhor trabalhado. Para vocês foi dada a intimidade e a sensiblidade. Não é mera coincidência que quem costuma cuidar das coisas de fora, exteriores, somos nós, enquanto vocês cuidam daquilo que é mais particular, a casa. Nada mais lógico. Também não é mera coincidência que são vocês que nos acalmam tão só com suas presenças, apenas sendo vocês mesmas, sem agir. Sem a mulher o homem viveria profundamente desorganizado. Até o próprio Deus disse: "Não é bom que o homem viva só". Então no fundo vocês têm o direito de reclamar de nós sim, porque são vocês, sem precisar discursar ou subir em palanques, que nos civilizam. Mas não te esqueça, amiga leitora, que vocês andam esquecendo da própria vocação. Só não reclame sendo relapsa, porque isso seria a ruína do mundo.
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