Em homenagem a M. (Não o "M" do filme de Fritz Lang, pelo amor de Deus. Ele é mau, o filme é bom.)
(I) É bom, mas os porcos (e, segundo dizem, também os morcegos, dentre alguns outros animais) sentem orgasmo. E macacos se masturbam. Donde se conclui que quem ama falar sobre sexo pode ser comparado a um porquinho ou macaquinho falante. (Não custa nada dizer ao leitor que o homem, bem entendido, é o "asceta da vida". Não é por acaso que temos uma coisa chamada espírito.)
(II) Não foi o Cristianismo que fez a proeza de dizer que sexo é intrinsicamente mau. Sexo não é pecado. Tampouco devemos olhar com desprezo os Santos Agostinhos e Tomás de Aquinos da vida que comentaram sobre o assunto. Se você quer arrumar algum culpado, ele tem nome: cátaro, gnóstico e demais da mesma espécie.
(III) É verdade que a Igreja, por outro lado, sempre teve algumas reservas quanto ao sexo. Mas, entenda-se bem, não contra ele em si. O problema é o desregramento. Se algo não está conforme a sua finalidade, esse algo está viciado. Mais uma vez podemos trazer à baila os Santos Agostinhos e Tomás de Aquinos da vida. Até numa obra como Filotéia - Introdução à vida devota, São Francisco de Sales não deixa de fazer algumas reflexões sobre o que ele chama de "leito conjugal": "assim o que se requer no matrimônio para a geração dos filhos, e multiplicação das pessoas, é uma coisa boa e muito santa, porque é o fim principal do casamento." Mas também diz: "É o grande mal do homem, como diz S. Agostinho, querer gozar das coisas de que só deve usar, e querer usar daquelas de que só deve gozar: devemos gozar das coisas espirituais, e das corporais somente usar; e quando o uso destas se converte em gozo, a nossa alma racional converte-se outrossim em alma brutal e bestial."
(IV) Também se iludem aqueles que acham que apenas a tradição judaico-cristã faz esse tipo de reserva. Nada disso. A filosofia é mestra nesse quesito. Se observarmos por exemplo os ensinamentos de Aristóteles, podemos ver que ele também critica quem se deixa comandar pelos apetites. Pedro Sette Câmara explicou bem este ponto em seu blog: "a idéia de que a promiscuidade é ruim não é nem cristã em sua origem, e nem necessariamente religiosa. Aristóteles já á propõe abertamente, admitindo que o desejo sexual é uma paixão - a qual, como toda paixão, deve ser ordenada pela razão."
(V) Um dos problemas do uso de preservativos e anticoncepcionais é que eles fazem com que a gente dissocie, no sexo, causa e efeito. Você faz sexo ignorando solenemente as suas conseqüências mais simples. Ora, estabelecer simples nexos causais é, do ponto de vista da inteligência, algo básico. Então, de um jeito ou de outro, fazer a propaganda de camisinhas e anticoncepcionais ao mesmo tempo que se faz vista grossa às suas conseqüências só é possível mediante um ataque maciço à inteligência. Por outro lado, a ignorância das conseqüências mais imediatas é uma apologia enorme da irresponsabilidade, em níveis colossais, que vão desde as relações desajustadas entre as pessoas até os problemas mais graves de saúde pública de um país e quiçá do mundo todo. Mas não podemos esquecer que vivemos na época dos señoritos satisfeitos, conforme observou Ortega y Gasset em seu antológico livro A rebelião das massas. É a época dos mimos e das cabriolas. Todos querem tudo sem ter de arcar com a responsabilidade de nada.
(VI) Já dizia Goethe: “Os grandes homens estão ligados ao seu século através de alguma fraqueza.” Por conseguinte, nada mais natural que nós, os pequeninos, acabemos sendo carregados também por toda essa avalanche de confusões e erros, como se tivéssemos de contribuir obrigatoriamente para o sempiterno livro das besteiras humanas. Mas não devemos ficar abalados por conta de nossos próprios erros. Eles mesmos trazem sua própria solução. Daí as palavras de Benedetto Croce em seu Breviário de estética: "O erro fala com voz dupla, uma das quais proclama o falso e a outra o desmente; e é um contender de sim e não, que se chama contradição... O erro condena-se, não pela boca do juiz, mas 'ex ore suo'."
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