Ontem eu pude experimentar o quão próxima e surpreendente pode ser a maldade, pois assim que mencionei o meu desejo de assistir a "A Noviça Rebelde" para minha mãe, ela, essa que me fez vir ao mundo, soltou aquele som característico de quando colocam em dúvida o gênero alheio, para usar uma expressão a um só tempo pedante, estranha e da moda. A última vez que tomei conhecimento de algo ligeiramente semelhante foi quando fofocaram para mim que a mãe do meu tio dissera em certa ocasião que eu era demasiadamente educado, destilando no ambiente a sua pérfida intenção. Agora bem: nem só de desconfianças convivo. Há vários anos, enquanto alguns amigos e eu trocávamos insinuações peraltas acerca da sexualidade de cada um de nós, uma amiga partiu sincera e seriamente em defesa da minha honra masculina, cousa que me deixou mui orgulhoso. Todavia, refletindo com a sabedoria de quase uma década de intervalo, suponho que houve uma inversão total de valores durante o ocorrido, já que foi uma mulher que defendera a minha honra. Se esses tempos não fossem tão originais, algo dessa monta jamais teria passado despercebido.
Ainda que pareçamos uns mata-mouros, solteirice e razoável trato cordial são hoje em dia considerados um pé na veadagem. Segundo o observador moderno, quem quer que seja assim estará prestes a assumir a sua condição e por conseguinte tombará de quatro rapidamente por força das circunstâncias. Isso explica em parte a constante necessidade de mentir dos rapazes acerca de suas relações amorosas, algo aliás que não sei se é tão freqüente entre as moças.
Parece-me fato inequívoco que em não poucas ocasiões as mulheres assumem um comportamento viril. Peço licença ao leitor para contar um episódio. Certa vez eu vi um casal em frente a um bar. A mulher, devido às suas roupas, aparentava ter acabado de sair de uma academia, enquanto seu companheiro parecia ter saído de um escritório. Os dois estavam parados diante do bar decidindo o que fariam. Mal tendo eles tomado a decisão, qual não foi a minha surpresa quando a mulher resolveu entrar no bar para buscar uma mesa, depois duas cadeiras, em seguida uma terceira a fim de acomodar sua mochila e a maleta do homem e, não satisfeita com tudo isso, ainda buscar a cerveja e os copos. Eu, que a tudo observava do meu apartamento, permanecia incrédulo. Mais espantoso ainda era o fato de a mulher também sempre tomar a iniciativa dos beijos, já que o homem estava um tanto apático. Todavia, a fim de evitar recriminações tão-somente àquele pobre cidadão, lanço mão de minha própria experiência. Em pelo menos duas ocasiões em que fui a lanchonetes com alguma amiga, sucedeu o mesmo fato: sem mais nem menos, elas tomavam a iniciativa de ir buscar o que comeríamos, mesmo sob os meus mais vigorosos protestos. Houve também a vez em que fui prontamente abrir uma porta para uma amiga grávida passar, ao que ela tomou a dianteira e ainda por cima disse que não precisava. Insisti, dizendo que seria um prazer me sentir útil, porém ela declinou. Horas antes, quando decidi lavar a louça de sua casa por pura cortesia, ela não só me proibiu, tomando a tarefa para si, ainda me dirigiu para o labor desonroso de evitar que seu pequeno cão mordesse umas caixinhas de sucrilhos que estavam suficientemente próximas de sua tentação.
Por puro capricho, menciono ao leitor que já disputei futebol com mulheres, mas sempre deixando de usar uma força excessiva. Que o leitor não me considere pretensioso, mas joguei como se fosse os EUA em guerra no Vietnã: deixando de usar o que tinha de melhor para ficar próximo do nível do adversário, e perdendo ocasionalmente.
Certamente muitos casos semelhantes poderiam ser trazidos à tona pelo leitor, mas não é a ele que dirijo minha perplexidade, mas à leitora. Talvez ela possa me explicar tão estranhos fatos.
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