Se o voto é a arma do cidadão, sejamos coerentes: façamos mais uma campanha de desarmamento, dessa vez eleitoral.
Exceto entre comunistas e outros desastres, jamais conheci criatura do gênero humano que levasse a política a sério, o que talvez explique as calamidades atuais, especialmente aqui no Rio, que já deu dois passos para além do pior impropério. Tanto quanto, jamais tive a oportunidade de conhecer alguém que depositasse fé inabalável em qualquer candidato, exceto, como de praxe, os esquerdistas, mas aqui estou me referindo a gente normal.
Muito embora eu ouça que o brasileiro é tolo o suficiente para continuar crendo em políticos, não posso concordar, pelo menos não totalmente. Considero que esse tipo de opinião é parcial. Pode haver esse aspecto de ingenuidade amplamente disseminado, mas desconfio que não seja o dado predominante. Uma outra visão, talvez parcial também, mas que freqüentemente compartilho, embora com alguma desconfiança, é que, como já disse, as pessoas simplesmente não confiam na política. Prova disso é a vergonhosa popularidade do Congresso, cuja função como bode expiatório de todos os flagelos da nação ele vem desempenhando assaz bem.
Na minha modesta opinião, o brasileiro está longe de ter uma confiança suicida na política, pelo menos na medida em que ele não lhe dá muita importância. O máximo que faz é dar apenas um reconhecimento necessário. Apesar de tudo, as pessoas sabem que a política não é uma obra satânica, o que demonstra um enorme bom senso popular. Note o leitor que uma das marcas do pensamento conservador não é imaginar que a política seja intrinsecamente maligna. Quando um conservador destaca a precariedade da política, ele tem consciência de que está apontando apenas para um dos aspectos da questão. Numa época cheia de idéias políticas malignas, não age mal quem destaca o quão perversa a política é, mas isso, no fundo, conforme eu disse, é apenas um dos aspectos da questão. Pois bem, as pessoas em geral desconfiam da política sem considerá-la intrinsecamente maligna. Nesse sentido, o povo é conservador. É óbvio, todavia, que não estamos no campo da necessidade. Uma visão rígida das coisas apenas exageraria tudo. O caráter das pessoas, bem como de um povo, é passível de giros, da mesma forma que admite uma série de nuanças.
Continuando no campo da opinião modesta, não acho que o problema esteja no povo, porque, além de tudo o que já disse, ele é, por natureza, reagente. Não é na população que devemos, por conseguinte, buscar a fonte de nossos problemas. Eu diria que a principal responsabilidade é da elite letrada, isto é, pessoas mais ou menos cultas com alguma capacidade de influência na sociedade. O leitor encontrará ali toda uma sorte de criaturas as mais crédulas possíveis. O exemplo mais eloqüente foi o assentimento que parte dessa gente sempre deu a Lula, crendo que, uma vez no poder, o infeliz salvaria a nação. Essa cegueira se alastrou e contaminou o povo. Por outro lado, é nessa mesma elite que encontramos todo o gênero de reformadores sociais, que sempre visam a política como ferramenta fundamental, ou politizam todas as esferas da vida, o que é rigorosamente idêntico. Eu diria até que é essa classe que mais considera que "o voto é a arma do cidadão".
Para finalizar, e sendo ainda mais repetitivo, o povo ignora os fatos políticos simplesmente porque está pouco ligando para a política, enquanto a elite letrada o que mais faz é se haver com eles. Ora, amável leitor, quem você acha que é verdadeiramente cético?
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