Tuesday, October 12, 2004

Uma rápida formalidade e a revalorização da barriga

Peço humildemente perdão ao leitor. Minhas sucessivas trocas de casa são uma questão de necessidade. Isto que dá quando um homem não é senhor de si mesmo. Conto com a sua boa vontade. Oh sim, espero que dessa vez o dia do meu Juízo demore um pouco mais para acontecer. E se você vier a gentilmente postar um comentário, que entre como "anônimo" mas no fim escreva seu nome. É mais fácil e mais educado. Agora vejamos um outro assunto.

***

Um problema que ocupou minha querida cachola foi a relação entre o sentimento e o coração. Não sei quanto ao leitor, mas para mim este é um casal que não combina muito bem. Pois o que possui o coração para ser uma imagem dos nossos amores?

É um problema de simbologia. Ele, eu sei, é uma espécie de receptáculo. Através dele o sangue vai e volta enquanto nossas vidas curtas assim o permitirem. Daí que o coração pode ser visto como uma figura que representa a força da renovação ou revitalização necessárias para manter algo existindo, até porque ele é um órgão vital, até mais que o cérebro, num certo ponto de vista. Sem uma boa parte desse vigoroso trabalhador que jamais pensa, para alegria de todos nós, em fazer greve, simplesmente morreríamos. Por outro lado, conseguiríamos viver sem uma boa parte do cérebro.

Será neste sentido que o coração é enxergado como símbolo do amor? Será que este sentimento seria uma espécie de renovação nas nossas vidas? O amado que se distancia de nós, ainda que por brevíssimo tempo, seria tão terrível quanto o nosso coração desprovido de uma de suas partes? Não sei, leitor, mas se você souber, gostaria que me informasse.

Agora lembrei de duas coisas cuja junção e explicação são de responsabilidade inteiramente minha, seja que conseqüências tiverem. Em primeiro lugar, a figura, totalmente familiar ao leitor, do cupido. Não dizem que ele atira suas flechas em nossos corações? Não sei se desde os tempos que homens e mulheres pisaram pela primeira vez no mundo eles miravam o coração ou se isso é uma explicação moderna. Deixemos de lado esse problema e vejamos minha outra lembrança: num programa de tevê, disseram que, segundo Aristóteles, o órgão responsável pelos nossos pensamentos era... o coração! Vejam que idéia, aos nossos olhos, paradoxal: segundo nós, berço apenas das paixões; para Aristóteles, do pensamento. Admito que fiquei curioso em buscar algum livro que me esclarecesse se o Filósofo pensava assim mesmo (a imagem dele pensando com o coração é bela, se o leitor entender bem o que quero dizer com isso). O fato é que, juntando a imagem do cupido e da suposta hipótese aristotélica, imagino que a flecha acertando o coração seja a imagem de uma ação que "atrapalharia" o seu funcionamento natural. Em outras palavras, agiríamos não mais racionalmente, porém apaixonademente por quem nos tocou em nosso ponto mais sensível.

Esta minha hipótese, que assumo sua paternidade com todos os riscos, não é necessariamente oposta a da revitalização/renovação em todos os seus aspectos, mas é bastante diferente. Mas se uma e outra tentam buscar minhas graças e simpatias, digo o seguinte: não fico com nenhuma. Pois para mim, o lugar que mais fielmente representa a sensação da fuga do chão sob nossos pés (isto nada mais é que amor) se chama "barriga". Isto mesmo: barriga, para onde a comida vai e fica (aliás, vai, fica e vai de novo) por curta estadia. E por que justamente naquele lugar, que para muitos é motivo mais de vergonha que de qualquer coisa? Ora, porque sempre que temos uma sensação de surpresa, estranhamento, pavor, etc, etc, é lá que a coisa se manifesta. Daí a expressão "frio na barriga". O leitor tem que concordar que já sentiu literalmente isso, como eu também, se quisermos permanecer na raça dos homens. Existem também outras expressões que fazem alusões a certas partes do corpo e a sentimentos como "dor de cabeça", "dor no peito", "dor de cotovelo", além de outras sinônimas. Mas na minha opinião, nenhuma resume a essência de todas essas e outras como tudo que ocorre da barriga. E até lá sentimos dores, não nos esqueçamos.

Portanto, aqui estou elegendo nossa barriga como "rainha das emoções". E nisso, naturalmente, entrando o sentimento que abordei, que é o amor. E tal qual comida estragada, sabemos que fim lamentável um amor ruim tem. Ou como a fome que definha o corpo, que conseqüências funestas a não-presença de nossa amada (ou de seu amado, caso for leitora) nos traz. Deixemos o coração como símbolo apenas da revitalização, o que não é glória menor, ou dos trabalhos físicos pesados, que também têm sua participação na glória. Olhemos de um outro jeito para nosso próprio feliz umbigo.




4 comments:

Anonymous said...

Cá...só vc mesmo pra eleger a barriga como rainha dos nosso sentimentos....também vc só pensa em comer, vai ver que a ligação está ai, vc tem uma barriga apaixonada por comiga...rs.
Ah!antes que eu esqueça adorei sua casa nova Sr barriga do amor, eu a Vic e a Ma estamos esperando os videos com vc de sunguinha explicando os textos...rs.
Beijos na tua barriguinha apaixonada te adoro!!
Rê.

Carlos Kramer said...

Seja bem vindo ao Blogspot. Agora somos vizinhos. Só espero que a casa não caia, porque, senão, ficaremos dois na rua! Pena que eu ainda não tinha acabado de copiar todos os textos do outro blog para o meu computador. Afinal, o que te fez mudar?
Um abraço,
Carlos.

Ps: Dispenso a explicação de sunguinha, mas confesso que fiquei curioso para entender essa história!

Anonymous said...

olá cass!
vc está muito nômade, ou esteja levando essa história de beduíno muito a sério!
Se o orgão do pensamento segundo nossso estimado estagirita é o coraçao,e se a maioria de nós (exceto alguns seres...)identifica o coração como sendo o "lar" do amor, isso talvez justifique o fato da filosofia ser considerada como AMOR A SABEDORIA!
beijo grande
selline

Cassiano Farias said...

Selline, disseram pra mim essa semana que minha barba me deixa com um visual árabe. Talvez meu nomadismo esteja então no sangue. ;) Ah, e boa tua sacação sobre amor a sabedoria. :)

Ei, Rê, esse será um pequeno sacrifício que posso fazer para tornar meus textos mais acessíveis. Mas vai preparando as notinhas de dólares. ;)

Carlos, nunca pensou nisso não? Pergunta se a Selline deixaria, pergunta.