Se há de fato uma dúvida séria a respeito da qualidade das universidades, acho que a questão deve ser colocada de forma mais ou menos objetiva, embora a sensação de desamparo que muitas vezes os estudantes têm não possa ser negligenciada de maneira nenhuma. Ela tem os seus direitos legítimos no conjunto da análise. Infelizmente não tenho como fornecer uma regra de ouro para tal análise, porém imagino que seria útil averiguar detidamente qual o volume e qualidade -- isto é, a relevância no conjunto dos estudos destinados a cada tema -- da produção acadêmica de cada área, levando-se em conta toda a quantidade de subsídios empregados, tanto em termos financeiros como humanos, ao longo de mais ou menos três décadas, isto, uma geração. Outras universidades ao redor do mundo, de preferência as melhores, deveriam ser comparadas com as nossas nesses mesmos aspectos a fim de fornecer uma base de comparação. Poderia ser interessante também realizar uma comparação entre a produção acadêmica e não-acadêmica, no sentido de checar até que ponto a produção acadêmica em cada área é ou não superior ao que vem sendo produzido fora das universidades.
Apenas para ilustrar em termos o que eu disse, lembro-me que há seis anos a UFRJ tinha dez professores para cada aluno e uma proporção semelhante de funcionários para cada aluno. São números que deveriam indicar uma enorme disponibilidade de recursos humanos, porém não só era comum haver reclamações de falta de professores e funcionários como o problema parecia existir de fato em determinadas áreas. Um dado sobre a USP de quase oito anos atrás é que ela gastava mais de 94% de seus recursos com folha de pagamento, o que aliás não parece ser exceção à regra das estatais, posto que numa palestra que vi de um comandante do exército há muitos anos ele disse que quase 90% do orçamento militar era destinado à folha salarial. Não posso dizer como a situação é atualmente, mas não creio que tenha havido mudanças radicas. Creio igualmente que a situação da USP seja semelhante a de muitíssimas outras universidades estatais. Por fim, embora eu não tenha os números, a quantidade de pós-graduados, ao menos em História na UFRJ, a julgar pela expansão dos programas de pós-graduação que tem havido há algum tempo, vem aumentando bastante. A expansão das universidades privadas indica não só o óbvio aumento na quantidade de graduados como igualmente no de pós-graduados em praticamente todas as áreas. Contudo, a sensação de mendicância acadêmica continua bastante evidente.
Na minha modestíssima opinião, levando-se em conta esses e outros dados, as universidades infelizmente vem se tornando há muitos anos um trombolho cuja finalidade é assegurar uma vida confortável a alguns poucos. É menos pela necessidade de conhecimento que pelo prazer de ter altíssimos privilégios a sua razão de ser. A situação consegue ser ainda mais calamitosa pelo fato de haver, como se tudo isso já não bastasse, o aparelhamento ideológico numa série de cursos. Assim, a universidade acaba servindo principalmente a dois objetivos: assegurar privilégios e propagação de manias ideológicas. A famosa "produção de conhecimento" é relevada à categoria de cereja do bolo. Evidentemente há exceções, o que não deveria causar espanto, pois até em Sodoma havia justos. A questão não é saber se existe vida inteligente nas universidades, mas avaliar até que ponto a propaganda da necessidade de haver universidades, e ainda mais estatais, se tornou uma bela fantasia de cordeiro para disfarçar um lobo cruel e voraz.
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