Embora eu esteja com sono, o último texto do Lord Ass sobre a monarquia me inspirou a escrever uma coisinha aqui no post de número 200 do blog.
Bem, vamos lá. Não tenho nenhuma opinião sobre monarquia, mas tenho sobre a mania que um monte de gente tem de buscar antepassados gloriosos. Acho isso de uma bobice fenomenal e um tiro no pé, porque, em primeiro lugar, virtude não é uma coisa transmitida por inércia, e, em segundo lugar, o fato de você ter um antepassado ilustre pode muito bem indicar que você é a decadência total desse mesmo passado glorioso, mais ou menos como se você fosse uma espécie de ruína, como os escombros que hoje podemos ver com alguma melancolia da outrora majestosa Babilônia ou da antiga Roma, capital do mundo. Além disso, na sua história provavelmente há algum tipo de contraparte dessa nobreza, se é que você mesmo não é essa contraparte. Pode haver uma série de indivíduos completamente irresponsáveis, bandidos e idiotas na árvore genealógica de qualquer um. Por que fazer abstração disso? Mas sempre é mais bonito imaginar que descendemos de um nobre... Ora, muito mais sábios eram os antigos nesse ponto, já que ligavam sua história diretamente a algum deus: esta linhagem teve origem em Asclépio, aquela em Vênus, aqueloutra em Hércules. E isso quando não resolviam tirar da cartola a idéia original de serem eles mesmos um deus, conforme imaginou o pobre e meio tantã Empédocles. Agora bem, nossa perspectiva é cristã, portanto não admite nenhuma idéia a respeito das origens exceto essa: se por um lado todos fomos criados à imagem e semelhança de Deus Onipotente e Criador do céu e da terra, por outro lado somos os degradados filhos de Eva, isto é, pessoas amputadas da glória que em princípio deveríamos possuir. Vindos do pó, adquirindo o pão pelo suor de nosso rosto, retornaremos ao pó na esperança que o Pai diga: "Eu vos conheço". O contrário é a perdição. Eis uma das perspectivas que temos e que os antigos nem sonhavam.
Digo sem o menor pejo que semelhante idéia é uma das coisas mais elegantes, mais belas, mais sábias que alguém já teve. O sujeito que a bolou foi tão feliz em concebê-la que muito propriamente foi considerado como que inspirado por algo divino. E foi, de fato. Se do ponto de vista natural podemos dizer que a história do homem começa quando ele mendigava pelo mundo, por outro lado há o dado sobrenatural nesse mesmo homem, o qual nos ajuda a entender como é possível que esse mendigo, esse ser aparentemente tão desprovido de atributos naturais, possa elevar-se acima de tudo que existe no mundo. É como num conto de fadas, onde um príncipe, por motivos de contingência, foi obrigado a se tornar um pedinte ou um escravo, mas, graças a seus esforços e ao auxílio de não sei qual criatura bondosa, vai aos poucos largando a sua condição degradante para retornar à antiga posição que lhe é por direito, e agora por mérito. Esse conto de fadas é a verdadeira imagem da nobreza.
Bem, algo me diz que o texto ficou perneta, mas que pule num pé só. Espero que um dia a inspiração retorne para dar uma perna de pau ao texto. Bom dia.
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1 comment:
Deixei escapar uma "contigência" que foi fogo, mas já foi consertada. :)
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