Friday, August 04, 2006

Comentário ligeiro sobre a opinião

Atualmente Israel está em guerra contra o Líbano, conforme aqueles que têm a paciência de ler um desses jornais chatíssimos sabem. E mesmo que você não quisesse saber de nada, acabaria sendo obrigado a ouvir alguma palavra a respeito.

Esse tipo de obrigação é um mal, em certo sentido, pior que a guerra, porque você é tratado feito escravo e retardado.

Mentes esclarecidíssimas acham que temos de saber algo? Então temos de aceitar. E se não quisermos? Bem, se houver resistência, você será forçado ainda mais a saber. Você sabe aquilo que acham que você deve saber, ponto. Essa obrigação é de tal modo bizarra que muitas vezes somos nós mesmos que nos sentimos obrigados a ter uma opinião. Isso lembra aqueles mecanismos de controle de mentes no estilo de 1984. Agora bem: ninguém é obrigado a ter opinião.

Como somos atacados constantemente pelos jornais e suas inúmeras notícias, acabamos nos sentindo, quase intuitivamente, capazes de dizer alguma coisa sobre um assunto qualquer que está a léguas de nosso real interesse e entendimento. Ainda que não houvesse tantas informações em jornais, o simples fato de termos sido alfabetizados nos levaria a ter alguma posição sobre uma série de coisas. O problema é que esse esquema faz com que o sujeito só sirva como retransmissor do que foi dito. É como age o povo. Porque ele é como um sino: quando chocado pelo badalo, repica. É esta uma das características principais do povo, a retransmissão de idéias quando atiçado. Só assim, quando elas estiverem bem espalhadas, haverá como empreendê-las. Todas as loucuras no mundo tiveram início nalgum cômodo gabinete.

A educação, neste esquema, é um paradoxo esquisito. Quanto mais gente passa pelas escolas, maior é o número de gente desinformada. Chegamos então na estranha situação onde uma quantidade inacreditável de gente fala demais sem dizer nada. Suas palavras não têm corpo nem conseguem pisar no chão. É o campo predileto da fantasia, ou melhor, do reino do disparate. Ele surge quando uma quantidade descomunal de pessoas se sente obrigada a dizer alguma coisa sem conexão com os fatos ou com seus próprios interesses. As pessoas falam só por falar, cada um contribuindo com seu quinhão para a poluição de idéias. Nessas circunstâncias, o trabalho de quem quer realmente ter uma opinião sincera, pessoal, se transforma em martírio, porque acaba se vendo obrigado a trabalhar incansavelmente nesse imenso entulho a fim de encontrar uma preciosa pérola.

PS: Quem quiser saber um pouco mais sobre o problema da opinião e da informação, recomendo as seguintes leituras:

1) O Século do Nada, de Gustavo Corção, pp. 119-138 (felizmente podem ser lidas aqui);

2) A Rebelião das Massas, de Ortega y Gasset;

3) a palestra do Prof. Olavo de Carvalho sobre a Educação Liberal.

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