Sunday, June 15, 2008

Algo a partir do que D. Lourenço escreveu sobre o Orkut

Mais uma vez, D. Lourenço criticou o Orkut. Quando ele escreveu a sua primeira crítica, senti-me realmente tentado a abandonar o Orkut. Já o tinha feito antes, provavelmente devido àquele motivo lembrado pelo sábio monge: "o vazio dos jovens é tamanho que eles cansam de si mesmos também". Não o abandonei pela segunda vez, mas praticamente as minhas atuações orkutianas se resumiram em combinar os jogos com meu time de pelada, já que é mais prático assim do que telefonar para cada um.

Pois bem, ainda que as minhas palavras tenham algo de hipócrita, posto que sou usuário, meu maior incômodo não é tanto com o Orkut, mas com essa nossa propensão extraordinariamente moderna de publicidade da vida. Ainda não pensei muito bem sobre o tema, mas creio que carregamos de fato um homem-massa escondido no coração. Embora na maior parte das vezes tenhamos opiniões sumamente tolas, sentimos uma estranha necessidade de compartilhá-las, supondo que haja alguma centelha de genialidade escondida nelas. No fundo está a necessidade de exibição de nós mesmos, como se puséssemos a nossa pessoa num estandarte e saíssemos desfilando com ela, por mais tolos que sejamos. Disso resulta, naturalmente, na publicidade de cada aspecto da nossa vida, por mais insignificante que ele seja, como se o mundo não pudesse dar mais uma volta em torno de si mesmo até que o maior número possível de pessoas saiba da nossa existência, supostamente espetacular a ponto de servir como matéria de publicidade. Cada um de nós acaba sendo um exibicionista em potencial, às vezes em grau heróico. Não é nada espantoso que tudo se torne de interesse público, desde as opiniões até os relacionamentos mais íntimos.

Enquanto somos propagandistas de nós mesmos, no campo político surge o Estado policial. Não sei até que ponto existe uma relação de causa e efeito entre ambos, porém a falta daquilo que toscamente chamarei de "consciência real de intimidade" facilita bastante a atuação de qualquer Estado policial. Se nós mesmos nos fichamos gratuita e alegremente, conforme o sucesso do Orkut não deixa mentir, por que o mesmo não poderia ser feito em nome do Estado? O culto a nossa personalidade, esse exibicionismo de si mesmo, pode desembocar, em termos políticos, na mais completa submissão ao poder do Estado. Talvez seja uma conclusão um tanto precipitada, embora mereça alguma atenção.

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